Bom dia, caros amigos, é o professor Saraiva que vos fala. Cá estamos, não é verdade, no dia das mentiras e no fim de mais uma crepitante semana de poesia. Verifico com alegria moderada que a vossa participação se refinou em estilo e verve. Assim, esta semana a distinção vai para uma poesia que revela um fino sentido rítmico e uma clara influência étnico-vanguardista. Acontece que aborda, ademais, uma temática a que a poesia portuguesa tem dedicado um injusto e cruel desprezo. Falo das badanas de bacalhau e grelos cozidos!
Posto isto, falta-me só anunciar que, desta vez, sem exemplo e por especial interferência, resolvi atribuir um prémio físico e material ao eleito da semana. E para que não nos acusem, a nós poetas de alma sensível e espírito vago, de andarmos alheados da realidade que nos rodeia e circunda por baixo, deixo aqui a homenagem também aos dirigentes políticos e desportivos reunidos hoje em Londres para discutir a crise económica e financeira mundial... ao anunciar que o prémio desta semana é...
um garrafão de 5 litros com ácido muriático, para dissolver a crise e mandá-la pia abaixo!
Anunciemos agora e sem mais delongas das milongas do cabulété que o vencedor da semana é...
João Maria José, da Pampilhosa da Sé
Com arroz, tomate ou grelos;
Com 7 irmãos, 7 manas;
Com amores, sempre desvelos;
Com as ilhas, Marianas;
Se é marau, é já c’um pau,
Com licença e com que ganas;
Com gravanços, bacalhau,
Sejam caras ou badanas;
Com as ameixas, caroços,
Mas sem grainhas, sultanas;
C’uma imperial, tremoços,
Com três minis, três bifanas;
Com açúcar, com afecto;
Com nove e meia semanas:
Contas p’r’amandar p’rò tecto,
Com a verdade m’enganas…
E enfim, embora tivesse já anunciado que, a partir de hoje, só aos premiados seriam dadas honras de primeira página, aqui ficam também os não premiados, coitadinhos deles...
Par'ciam vivos como um alho
e afinal eram uns bananas
uns cabeças d'alho chocho
com a verdade m'enganas
pediste-me só 15 dias
e já lá vão 3 semanas
mais vale esp'rar sentado
com a verdade m'enganas
vem nos velhos pergaminhos
com a verdade m'enganas
quanto mais cara d'anjinhos
mais refinad' os sacanas
Filomena Sofia, a Filó, Reguengos de Monsaraz
“Com a Verdade m’enganas!”,
Vei’ dizer-me a Impostura.
“Com a Verdade? Santo Deus”
Disse-lhe eu, “Tanta loucura!”
“Sim, senhor, com a Verdade
Ou tu julgas qu’eu não sei?”
“Tu sabes? Sabes que mentes,
Porque eu nunca te enganei!”
“Olha bem p’ra mim nos olhos,
Não desvies o olhar:
Juras que não é verdade
Que me andas a enganar?”
“Co’ a Verdade? Nem conheço…
Menina, tem piedade!”
“Não me estarás a mentir?”
“Estou a dizer-te a verdade!”
“Pois, eu sei, és-lhe fiel,
É isso que tenho estado
A dizer – que é com ela
Que me enganas, meu safado!”
Alzira Aleixo, de Fanzeres do Rio, Lápra Cima
Com a verdade m'enganas
tremuras do meu coração
torradinhas com manteiga
por cima café limão
com a verdade m'enganas
meu grande pantomineiro
fazem muita comichão
formigas no açucareiro
com a verdade m'enganas
meu pequeno salafrário
descalça-m'essas tamancas
que calçastes-as ao contrário
com a verdade m'enganas
me confundes me embaralhas
barafundes embaranas
enganundes e enfaralhas
com a verdade m'enganas
mas por baixo da peruca
essa caudinha que abanas
ainda é prima do anhuca
Augusto Fécula, de Arquivo Morto, distrito Fácil
com desprezo me atormentas
com crueldade me esganas
com carinho me alimentas
com a verdade me enganas
já não sei, maria augusta,
como é que hei-de interpretar
essa tão estranha maneira
que tu tens de te portar
já não sei maria augusta
p'ra te dizer com franqueza
e eu sei que a verdade assusta
assusta, mas não caduca
e tu, não tenho a certeza
mas acho que estás maluca.
O. Nofre, de O. Divelas
Vou saltar-te num pinote
com a verdade me enganas
és fuleiro como mote
vou esperar melhores semanas
Vou-te dar-te um piparote
com a verdade me enganas
não te gramo como mote
vou esperar melhores semanas
vou-te atirar com um escadote
com a verdade me enganas
és um mote fracalhote
que só rima com bananas.
... Publico-os, mas só assim, ao cantinho da página e em letra mais fininha.
É até onde vou em matéria de condescendência com gente preguiçosa.
Passai bem!
Oh senhor professor Saraiva, caraças pá, que nem estou em mim! Não calcula a alegria que você me pregou, quando li o meu nome ainda há bocado. Fiquei para morrer , mas preferi ir antes logo a correr à mercearia do Zé Domingos contar à rapaziada. O senhor professor não sabe, mas, desde que o senhor abriu aqui este Momento de Poesia, eu e uma rapaziada amiga , aqui da Pampilhosa da Sé organizamos uma pequena entertúlia poética, aqui na mercearia do Zé Domingos. Isto é mercearia e tasca do outro lado, está a ver?... a gente senta-se é mais na tasca, que na mercearia inspira pouco.
ResponderEliminarcomo é o primeiro de Abril, eles nem queriam acreditar, mas depois de 3 minis lá se convenceram e pagaram mais uma .
quanto ao prémio... oh professor , porque é que se foi incomodar?!... um garrafão de ácido muriático! então e não era mesmo isso que eu estava a dizer, no outro dia, à minha Francelina?!... Francelina, filha, na conjuntura económico-finaceira global actual que vivemos hoje em dia , isto só lá vai com ácido muriático. e sabe o que ela me disse? e nunca menos do que um garrafão dele! o raio da mulher é inteligente como um sapo.
pois sim, claro que é uma honra e um prazer ir aí buscar o garrafão, onde e à hora que der mais jeito ao professor Saraiva. E nem é preciso embrulhar, que o meu primo é estufador.
não o maço mais
professor, disponha sempre
sinceramente
a sério
sem grupos
na pureza
um seu criado
João Maria José
boa noite professor Saraiva. O meu nome é Izidro Fosco e queria aproveitar a oportunidade, que o professor nos concede, para sugerir dois ou três motes para futuras semanas, ou assim...
ResponderEliminarvamos lá a ver.
primeiro mote: "Não percebo, mas admito"
segundo mote: "Vinhas já, a horas mortas e aos esses"
(variante: "Donde vens, a estas horas e já grosso")
terceiro mote: "Qualquer coisa de indelével, uma impressão indizível"
agradeço a vossa apreciação e subscrevo-me com esta mão que s'assina
Izidro Fosco
oh amigo Izidro, não desfazendo, agradeço a sua colaboração, mas os motes que propõe estão ali a roçar o que chamaria de motes de merda, com sua licença.
ResponderEliminarmas não desista, homem, não desista e sobretudo nunca deixe que uma opinião sincera o faça ter vontade de beber vitríolo.
bem haja e volte sempre.