Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
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Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

e novo mote outra vez, e outra vez entremez

Bom dia, caros amigos, é o professor Saraiva que vos fala. Cá estamos, não é verdade, no dia das mentiras e no fim de mais uma crepitante semana de poesia. Verifico com alegria moderada que a vossa participação se refinou em estilo e verve. Assim, esta semana a distinção vai para uma poesia que revela um fino sentido rítmico e uma clara influência étnico-vanguardista. Acontece que aborda, ademais, uma temática a que a poesia portuguesa tem dedicado um injusto e cruel desprezo. Falo das badanas de bacalhau e grelos cozidos!

Posto isto, falta-me só anunciar que, desta vez, sem exemplo e por especial interferência, resolvi atribuir um prémio físico e material ao eleito da semana. E para que não nos acusem, a nós poetas de alma sensível e espírito vago, de andarmos alheados da realidade que nos rodeia e circunda por baixo, deixo aqui a homenagem também aos dirigentes políticos e desportivos reunidos hoje em Londres para discutir a crise económica e financeira mundial... ao anunciar que o prémio desta semana é...

um garrafão de 5 litros com ácido muriático, para dissolver a crise e mandá-la pia abaixo!

Anunciemos agora e sem mais delongas das milongas do cabulété que o vencedor da semana é...

João Maria José, da Pampilhosa da Sé

Com arroz, tomate ou grelos;
Com 7 irmãos, 7 manas;
Com amores, sempre desvelos;
Com as ilhas, Marianas;
Se é marau, é já c’um pau,
Com licença e com que ganas;
Com gravanços, bacalhau,
Sejam caras ou badanas;
Com as ameixas, caroços,
Mas sem grainhas, sultanas;
C’uma imperial, tremoços,
Com três minis, três bifanas;
Com açúcar, com afecto;
Com nove e meia semanas:
Contas p’r’amandar p’rò tecto,
Com a verdade m’enganas…

E enfim, embora tivesse já anunciado que, a partir de hoje, só aos premiados seriam dadas honras de primeira página, aqui ficam também os não premiados, coitadinhos deles...


Rudolfo Pero Mofo, de Aldeia Podre, Rafeiros

Par'ciam vivos como um alho
e afinal eram uns bananas
uns cabeças d'alho chocho
com a verdade m'enganas

pediste-me só 15 dias
e já lá vão 3 semanas
mais vale esp'rar sentado
com a verdade m'enganas

vem nos velhos pergaminhos
com a verdade m'enganas
quanto mais cara d'anjinhos
mais refinad' os sacanas


Filomena Sofia, a Filó, Reguengos de Monsaraz

“Com a Verdade m’enganas!”,
Vei’ dizer-me a Impostura.
“Com a Verdade? Santo Deus”
Disse-lhe eu, “Tanta loucura!”
“Sim, senhor, com a Verdade
Ou tu julgas qu’eu não sei?”
“Tu sabes? Sabes que mentes,
Porque eu nunca te enganei!”
“Olha bem p’ra mim nos olhos,
Não desvies o olhar:
Juras que não é verdade
Que me andas a enganar?”
“Co’ a Verdade? Nem conheço…
Menina, tem piedade!”
“Não me estarás a mentir?”
“Estou a dizer-te a verdade!”
“Pois, eu sei, és-lhe fiel,
É isso que tenho estado
A dizer – que é com ela
Que me enganas, meu safado!”

Alzira Aleixo, de Fanzeres do Rio, Lápra Cima

Com a verdade m'enganas
tremuras do meu coração
torradinhas com manteiga
por cima café limão

com a verdade m'enganas
meu grande pantomineiro
fazem muita comichão
formigas no açucareiro

com a verdade m'enganas
meu pequeno salafrário
descalça-m'essas tamancas
que calçastes-as ao contrário

com a verdade m'enganas
me confundes me embaralhas
barafundes embaranas
enganundes e enfaralhas

com a verdade m'enganas
mas por baixo da peruca
essa caudinha que abanas
ainda é prima do anhuca

Augusto Fécula, de Arquivo Morto, distrito Fácil

com desprezo me atormentas
com crueldade me esganas
com carinho me alimentas
com a verdade me enganas

já não sei, maria augusta,
como é que hei-de interpretar
essa tão estranha maneira
que tu tens de te portar

já não sei maria augusta
p'ra te dizer com franqueza
e eu sei que a verdade assusta

assusta, mas não caduca
e tu, não tenho a certeza
mas acho que estás maluca.

O. Nofre, de O. Divelas

Vou saltar-te num pinote
com a verdade me enganas
és fuleiro como mote
vou esperar melhores semanas

Vou-te dar-te um piparote
com a verdade me enganas
não te gramo como mote
vou esperar melhores semanas

vou-te atirar com um escadote
com a verdade me enganas
és um mote fracalhote
que só rima com bananas.


... Publico-os, mas só assim, ao cantinho da página e em letra mais fininha.

É até onde vou em matéria de condescendência com gente preguiçosa.

Passai bem!

P.S.: Já agora, amigo João Maria José, o garrafão, como é? Quer que embrulhe, ou vem buscar?...

3 comentários:

  1. Oh senhor professor Saraiva, caraças pá, que nem estou em mim! Não calcula a alegria que você me pregou, quando li o meu nome ainda há bocado. Fiquei para morrer , mas preferi ir antes logo a correr à mercearia do Zé Domingos contar à rapaziada. O senhor professor não sabe, mas, desde que o senhor abriu aqui este Momento de Poesia, eu e uma rapaziada amiga , aqui da Pampilhosa da Sé organizamos uma pequena entertúlia poética, aqui na mercearia do Zé Domingos. Isto é mercearia e tasca do outro lado, está a ver?... a gente senta-se é mais na tasca, que na mercearia inspira pouco.
    como é o primeiro de Abril, eles nem queriam acreditar, mas depois de 3 minis lá se convenceram e pagaram mais uma .
    quanto ao prémio... oh professor , porque é que se foi incomodar?!... um garrafão de ácido muriático! então e não era mesmo isso que eu estava a dizer, no outro dia, à minha Francelina?!... Francelina, filha, na conjuntura económico-finaceira global actual que vivemos hoje em dia , isto só lá vai com ácido muriático. e sabe o que ela me disse? e nunca menos do que um garrafão dele! o raio da mulher é inteligente como um sapo.
    pois sim, claro que é uma honra e um prazer ir aí buscar o garrafão, onde e à hora que der mais jeito ao professor Saraiva. E nem é preciso embrulhar, que o meu primo é estufador.

    não o maço mais
    professor, disponha sempre
    sinceramente
    a sério
    sem grupos
    na pureza

    um seu criado
    João Maria José

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  2. boa noite professor Saraiva. O meu nome é Izidro Fosco e queria aproveitar a oportunidade, que o professor nos concede, para sugerir dois ou três motes para futuras semanas, ou assim...

    vamos lá a ver.

    primeiro mote: "Não percebo, mas admito"
    segundo mote: "Vinhas já, a horas mortas e aos esses"
    (variante: "Donde vens, a estas horas e já grosso")
    terceiro mote: "Qualquer coisa de indelével, uma impressão indizível"

    agradeço a vossa apreciação e subscrevo-me com esta mão que s'assina
    Izidro Fosco

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  3. oh amigo Izidro, não desfazendo, agradeço a sua colaboração, mas os motes que propõe estão ali a roçar o que chamaria de motes de merda, com sua licença.
    mas não desista, homem, não desista e sobretudo nunca deixe que uma opinião sincera o faça ter vontade de beber vitríolo.
    bem haja e volte sempre.

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