Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
CUSCUVILHAI! CUSCUVILHAI!... QUE NESTE BLOG QUASE TUDO SE PASSA NOS COMENTÁRIOS!
Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

o 25 d'abril já está, vamos à vida antes que nos caia outro 28 de maio em cima, mas é!


E pronto, amigos, acabou-se o PREC ! O Período de Recepção dos vossos Estimadíssimos Contributos termina aqui e é já.
Amanhã é feriado e, se calhar, muitos de vocês até está a pensar em aproveitar o fim-de-semana prolongado e ir com a família, quem sabe, dar um passeio até ao Zimbabué!... A pé.
Por isso, publica-se e é já a lista dos que não ganharam nada, com especial destaque para o poema vencedor.
É nessa conformidade que digo o seguinte:

O Vencedor desta vez é …

Austero Duque e Tal, Mó de Moinho, Abrunheira

Que mandou isto:

Lá em Santa Comba Dão,
ó combadão, combadão,
na noite escura de breu,
no cemitério local,
um caso fenomenal,
lá em Santa Comba Dão,
à meia-noite se deu.

Surgiu uma assombração,
ó combadão, combadão,
uma coisa de espantar,
e tinha, p’lo que se diz,
o inconfundível nariz,
ó medonha assombração,
d’Oliveira Salazar.

Povo do meu coração,
ó combadão, combadão,
vinde, vinde-me ajudar,
dizia a alma penada,
e aquela gente, assombrada,
povo do meu coração,
não sabia o que pensar...

Ó terror! Ó maldição!
Ó combadão, combadão!
Nem no inferno se está
hoje em dia sossegado,
diz o espectro, afogueado.
Ó terror! Ó maldição!
Eles não me querem lá!

Mas que tremenda aflição,
ó combadão, combadão,
compadecei-vos de mim!
Dizem que são capitães,
os demónios, esses cães,
mas que tremenda aflição,
e vêm atrás de mim!

E no meio da confusão,
ó combadão, combadão,
vem um grito do Além:
Vade retro, Salazar!
Não queremos cá tal azar,
no meio da confusão,
fica aí que aí estás bem!

Em Comba Dão, desde então,
ó combadão, combadão,
de quando em quando se avista
um avejão a assombrar,
Salazar, um tal azar,
lá em Santa Comba Dão,
a longa noite… fascista.


Seguidamente, sem desprimor e não desfazendo, menção honrosa seja feita a

António Prazo de Validade e Gomes, Alverca, base aérea,

que mandou isto…

Electroencefalogramas
O meu novo penteado
Disse ele gemendo na cama
Com o crânio todo engessado

Tomoaxiografia
Que já não mo perguntava
Ricocheteou Maria
Que já de si coxeava

Mas o que eu radioscopia
Era alguém para me explicar
O porquê dessa armação

Digo-lhe eu dona Maria
Salazar um tal azar
Bateu c’os cornos no chão

A menção que se segue explica-se de duas maneiras. Primeiro, porque o autor está desempregado e essa gente precisa de solidariedade e encorajamento, depois, porque me fez lembrar o Guardador de Porcos, do enorme e ex-alcoólico poeta Armando Peçonha.

De

Henrique Oitavo, filho de Ricardo das Tripas Coração Segundo e Maria Pia de Despejos Domésticos, actualmente desempregado,

Andava um dia no monte,
Com umas cabras a pastar,
Um rapazito franzino.
Um lingrinhas singular,
Com nariz de maçarico
Desengonçado no andar
Umas orelhas de abano,
Que nos faziam lembrar
Aquelas pegas, que tem
Dos lados um alguidar.
Menino de sua mãe,
O menino Salazar.

Ele e as cabras faziam
Um retrato inesquecível,
Recortados na paisagem
Da serrania terrível.
As cabras, com aqueles cornos
Pareciam uns diabretes,
Saltando por entre as canas,
Que caíam dos foguetes.
Enquanto ele fazia
Apitos com um canivete,
Fazendo horas também
P’ra voltar p’ra casa às sete.

E o povo todo da aldeia
Dizia que ele algum dia,
Se desse corda aos sapatos,
A algum sítio chegaria.
Por isso, juntou-se o povo
E rifaram-se uma quotas,
Para juntar umas libras,
Para lhe comprar umas botas.
Umas botas de verniz,
Um bocado apanascadas,
Mas isto, a moda é assim,
Tem destas coisas maradas.

E lá foi o Salazar.
Largou as cabras da mão,
Meteu-se na escola a estudar.
Chegou quase a sacristão,
Mas não chegou a chegar,
Que entretanto houve mudanças
E mandaram-no chamar
P’ra ministro das finanças.
E ele que até nem queria,
Não estava para aí virado,
Acabou por gostar tanto,
Que depois foi o diabo.

Não ia a mal nem a bem.
Tiveram que mandar chamar,
Salazar um tal azar,
Um padre para o exorcizar,
O menino de sua mãe…

Agora, o resto

Alfredo, marceneiro, R. da Voz do Operário

Salazar, um tal azar
Como esse nunca se viu
Se ele fosse, mas era
P’rá senhora que o pariu
É que tinha feito bem,
Tinha ganho toda a gente,
Menos, claro, a sua mãe,
Mas quem o fez que o aguente...
Palavras talvez cruéis,
Mas bem sábias e já velhas,
Que fosse ele chatear
Quem lhe fizera as orelhas!
Pobre senhora, é a vida,
Quem tem filhos tem cadilhos.
Tirando a madre do Franco,
Que essa teve foi caudilhos,
Já a mãe ao Mussolini,
Coitadinha da senhora,
Dizem que era uma devota
Católica e professora
E deu-lhe deus uma besta
Dum filho assim, que só visto,
É caso de se dizer:
Cria-se um filho p’ra isto...
Mas enfim, deixemos isso
Que não vem à colação
Do mote que aqui nos trouxe
(Eu vim de mote… Tu não?),
Que o tema desta semana,
Por acaso inspirador,
Não sei que te dita a ti
Mas cá a mim dita dor...
Figas, cruzes, t’arrenego,
Baza, malaico, um, dois, três!
Salazar: um tal azar
Não q’remos cá outra vez!

Libério Libertino Libertário, de Frases Feitas, Chapéu

Salazar, um tal azar…
Olha que falar de azar
Sendo que o assunto és tu
Salazar, sem ofender
Acho que podes meter
O trocadilho no cu

Rosa Maria Cardoso, renitente anti-fascista, praceta 25 d’Abril, Margem Sul

Salazar, um tal azar,
Pior não podia ser,
A menos que, se calhar
E podia acontecer,
A cadeira aguentar
Ali firme e não ceder.

Mas era já muito peso.
Ele era já peso a mais,
Mesmo sendo rijo e teso
E dos melhores materiais,
O assento não podia
Durar para sempre, ora pois;
Haveria de chegar o dia,
Em que se partia em dois.

E esse dia lá veio.
Estava ele a comer pão.
Ao partir a bucha ao meio,
Caiu de costas no chão.
E aí se anunciava,
Nesse mesmíssimo instante,
Outra queda bem mais brava,
Uns anos mais adiante…

E não vou aqui falar
Nos que, desse trambolhão,
De mansinho, devagar,
Se levantaram do chão,
Esperaram a ver se vinha
Algum chaimite a passar,
Aprenderam a ladainha
E puseram-se a cantar…

Salazar, um tal azar,
Pior não podia ser…
A não ser que, se calhar,
Começasse a chover!

Nélson, Caminhos de Ferro

Houve em tempos um chaval,
o gajo, vou-l’e dezêre
diz que, coiso, Portugal,
é p’à blusa, tás a vêre?
Bem, o homem, ouve lá,
s’embirrava p’algum lado,
ai jasusa, ‘tá bem ‘tá,
tu ‘tá-me mas é calado!
Cenas qu’o gajo inventava,
pá, qu’eram tão faralhadas,
qu’um gajo até se passava...
Merdas, sei lá, meu, maradas!...
S’um gajo tinha o azare,
de dizer que coiso e tale,
que, "pá, tu tens qu’atinare,
atão não vês que ‘tá male?",
ó depois no outro dia,
‘tava um gajo sossegado,
aparecia a chibaria,
e um gajo era arrecadado.
Tu punhas-te a espernear,
que não fui, não sou, não sei,
era eles a afiançar,
e achantra-te, qu’é a lei.

É uma história qu’os meu cotas
gramam à brava contar.
O nome dele era Botas,
de alcunha era o Salazar.

Um tal azar.

Carolino Feijão , de Paradoxo Evidente, Arroz Doce

Diz que tinha hábitos saudáveis
E se deitava com as galinhas
O que a História não nos conta
É que o fazia mesmo à letra
Era um porco um debochado
Salazar um tal azar
Era um porco um debochado

Diz que tinha um par de botas
Que lhe davam p’lo tornozelo
Do que a História não nos fala
É da meiazinha de renda
Que lhe dava o ar de puta
Salazar um tal azar
Que lhe dava o ar de puta

Diz que era muito severo
E austero mesmo consigo
O que a História não nos diz
É quando já estava com os copos
As figuras que fazia
Salazar um tal azar
As figuras que fazia

Diz que deixou muito oiro
Nos bancos os cofres cheios
O que a História não refere
É que o oiro era dos dentes
Das dentaduras das velhas
Salazar um tal azar
Das dentaduras das velhas

Para muitos foi um santo
Para outros um demónio
Um paradoxo da História
Mas há gente que acumula
Se calhar ele era desses
Salazar um tal azar
Se calhar ele… ah que mula!

José Silva, do Barreiro

Foram quase cinquenta anos
A levar na cornadura
Até que chegou Abril
E acabou a ditadura
Soldados e marinheiros
E o povo com uns porretes
Sem fazer grandes chiqueiros
Correram com os tiranetes
Foi um dia de trabalho
E à hora do jantar
Tinham ido com o caralho
A ditadura e o medo
Salazar um tal azar
Não ter sabido mais cedo


Procópio Pio, o PiuPiu da Madragoa

Salazar um tal azar
Mas qual azar quais caroço
O que faz a roda andar
É cada qual com o seu esforço

Na vida cada um tem
O azar que mai’ merece
Não é do céu que ele vem
Nem é do chão que ele cresce

Ora portanto acredita
O que importa é pores-t’a pau
E se outro bicho marau

Quiser que a História se repita
Vai com a puta que o pariu
Ou eu não me chame Piu Piu!


E aqui chegados, resta-me só acrescentar que foi com a mais revolucionária alegria que constatei o facto. O facto, obviamente de, esta semana, termos batido o recorde de participações, com 47 poemas enviados. Foi pena, 37 deles se terem perdido pelo caminho! Mas, os 10 que chegaram estavam uma especialidade, não desfazendo, nos outros, que se perderam.

Quanto à chaleira! Vocês nem me falem nisso!

Obrigado.

Sem comentários:

Enviar um comentário