Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
CUSCUVILHAI! CUSCUVILHAI!... QUE NESTE BLOG QUASE TUDO SE PASSA NOS COMENTÁRIOS!
Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!
Ah! Ah! Agora apanhei-vos!
Pois é como vedes, apesar de irreconhecível até para mim próprio, a verdade é que sou eu mesmo. Claro que, fosse quem fosse, seria sempre eu mesmo. Mas, creio que me faço a mim próprio transparente, como dizia um velho amigo, que nunca mais vi, justamente por causa disso. De ser tão transparente. Não por ter deixado de ser ele próprio e se ter tornado ele mesmo noutra pessoa e agora não o reconhecer, por causa disso. 
Bom, mas pronto, como vedes, esta prolongada ausência deixou marcas na minha pessoa. Mas também na minha maneira de ver a vida. E, à minha sempre amada Poesia, juntei agora a Filosofia. 
Como sabeis, estive uma temporada vivendo junto de uma simpática comunidade que cultivava melões. E foi esse suculento convívio e as longas tardes passadas na imensidão dos campos, observando os melões a crescer, que me levaram a profundas e filosóficas reflexões. Aprende-se muito a ver um melão crescer, meus amigos. 
Seja como for e para não vos maçar demais, deixai só que abrevie e conclua que passei entretanto por um mosteiro budista para não fumadores e fiz alguns retiros espirituais em pacatos retiros de espirituosos.

Outra razão porque já aqui não vinha há muito tempo é que tinha perdido a chave disto.
Afinal estava nas outras calças.
Enfim, palhaçadas.

Quanto ao futuro e ao que poderá vir a passar-se de novo aqui...
Não faço ideia nenhuma, mas não é coisa que me preocupe.
Pior do que já foi, é difícil.

Há-de continuar a ser coisas deste jaez:

andastes a comer
cogumelos do pinhal
e não havias de querer
começares-t’a sentir mal

andastes a beber
cházinhos d’ervinha’stranhas
e agora andas a ver
bruxas e teias de aranhas


é a vida...
não a assustem.


mistérios bíblicos...

pois é, meus amigos, ia eu a passear pela minha horta de melões, quando dei com o meu bordão numa pedra e me saiu, lá de baixo, um pequeno lacrau com um papel na boca. e não querem lá ver que o papel tinha isto escrito!...

E MOISÉS SUBIU À MONTANHA

IA À PROCURA DE LENHA

P’R’ACENDER UMA FOGUEIRA

E ASSAR UMA FARINHEIRA

QU’IA SER LONGA A JORNADA

E ELE SEM COMER NADA

E AIND’ ERA UM BOM ESTICÃO

DALI A PÉ ATÉ SIÃO

SUBIU A MONTANHA COM ESFORÇO

ELE QUE JÁ NÃO ERA MOÇO

À PROCURA DE UM GRAVETO

OU DE UM GALHITO FACETO

OU QUALQUER COISA QU’ARDESSE

FOSSE LÁ O QU’APARECESSE

P’RA ELE TANTO FAZIA

COM A FOME QUE SENTIA

MAS SÓ ENCONTRAVA CALHAUS

POR ONDE FUGIAM LACRAUS

NA MONTANHA DESCARNADA

ONDE NÃO CRESCIA NADA

SÓ PEDREGULHOS FULEIROS

PEDRAS BOAS PAR’ISQUEIROS

MAS NADA QUE LHE PRESTASSE

P’RA QUE A FARINHEIR’ASSASSE

E CONTINUOU SUBINDO

TRANSPIRANDO E REFLECTINDO

BAIXINHO COM SEUS BOTÕES

“SÓ TENHO DUAS OPÇÕES:

OU REVIRO ESTA MONTANHA

E SE NÃO ENCONTRAR LENHA

REVIRO TAMBÉM AS DA LUA...

OU COMO A CHOURIÇA CRUA!”

E AO DIZER ISTO É QUE VIU

QUE SEM REPARAR SUBIU

ATÉ AO CIMO DO CUME

EM BUSCA DE PAU P’R’Ò LUME

CANSADO OLHAVA O CHÃO

E IA TENDO UM’AFLIÇÃO

QUANDO VIU MESMO A SEUS PÉS

UMA TÁBUA 6X10

BAIXOU-SE P’RÀ APANHAR

E COMEÇANDO A SALTAR

INICIOU LOGO A DESCIDA

TODO CONTENTE DA VIDA

UMA TÁBUA COMO AQUELA

ATÉ ASSA UMA MORCELA

UMA TÁBUA BEM CATITA

TINHA QUALQUER COISA ESCRITA

BEM TENTOU VER S’ENTENDIA

O QUE É QUE A TÁBUA DIZIA

E ENQUANTO DESCIA O MONTE

PENSAVA COÇANDO A FRONTE

“NÃO DEVE SER NADA URGENTE

E SE FOR É-ME INDIFERENTE

JÁ QUE TAMBÉM NÃO SEI LER...

VAI P’RÒ FOGO E É P’R’ARDER!”

E ACABOU QUEIMANDO AOS PÉS

NESSE DIA O BOM MOISÉS

P’RA COZINHAR ALIMENTOS

A TÁBUA DOS MANDAMENTOS

(NO CASO CHOURIÇO ASSADO

MAS DEUS É QUE FICOU PASSADO)


oh mãe eu não gosto de praia

olá, aqui é bom dia e estou a escrever da praia das maçãs. apesar de poder parecer fora de época, atrevo-me a enviar este poema que escrevi no Verão passado. Tirando isso, o meu nome é Vasco.

sentei-me num peixe aranha
levantei-me logo a seguir
de um salto como um burro aos coices
parecia um cão a ganir

oh mãe eu não gosto de praia
tu não me obrigues a ir

tropecei numa santola
rebolei pelo meio dos seixos
aleijei-me na carola
e ainda esfolei os queixos

oh mãe eu não gosto de praia
tu não me obrigues a ir

O marujo da Carmina

Não eram ainda nem três minutos passados da publicação do melão do Boccacio, chegava-me já, por correio ordinário (e mesmo ordinário, por tal sinal!) um poema de uma sua conterrânea, perdão, contemporânea, Carmina Burana Alves, a que passo também a dar destaque de primeira página sem ter de passar pelos comentários. Dizia a senhora:

Caro Professor Saraiva,

Como vocês só têm é porcaria nesse seu blogue, tome lá um poema de jeito, até qu'enfim.

Sua (Transpira, isto é...)

Carmina Burana Alves, marquesa de Consultório

Não há vida mais feliz que é o marujo

Não há vida mais feliz que é o marujo
Navegar e à bolina à lamejinha,
Ir para a cama de peúgas, todo sujo,
Da pila sequer lavar a cabecinha.
Cabecinha e nem sequer que tal apenso
Os tintins e há quem lhe chame tubarões,
Que a vida de marinheiro, é o que eu penso,
É uma vida muito dada a privações.
É uma vida muito dá, valha-me Deus,
E quem o que tem dá a mais não é
Obrigado p’la atenção todos os seus
A seu dono entregarei por minha fé,
Ferra o dente, oh mastaréu, oh meu cabrão
Bolina o portaló, oh meu sabujo,
Eia avante a proa à ré, ou talvez não,
Já não sabe o que é que diz este marujo.

Não há vida mais feliz que é o caruncho,
Na Madeira, no Funchal, a esc’rafunchar.
Escarafunchas tu, também eu escarafuncho,
É a cruz que todos temos de levar.
Mas se a cruz estiver bem escarafunchada,
Tòt’limaites a preceito e com rigor,
A pessoa já não vai tão carregada,
Se a subida é a descer ‘inda melhor.
Se a sagaz sabedoria muito ensina,
Não aprende quem não quer ou quem é burro:
Em chegando com a cruz lá mesmo acima,
Está um gajo à espera para lhe dar um murro.
Ah, que é cheia de surpresas esta vida,
Sobressaltos altos tem e até ‘scolhos
E falta acrescentar, estava esquecida,
que o murro, ‘inda há bocado, era nos olhos.

O melão do Bocaccio

Recebi de Zé Maria do Bocaccio um poema sob a forma de comentário, a que passo de imediato a dar destaque de primeira página:

Oh porfessor! long time no sea...como dizem os marinheiros... então agora deu-lhe p'ra cultivar melões! nem de propósito que assim mando-lhe um poema épico que eu escrevi há já muitos anos dedicado ao melão precisamente... espero que lhe agrade e mate as saudades da poesia, que o escaravelho de melão só se mata à base de porrada e grelos. saúde e boa safra!

Do melão nada direi, pois não me atrevo,
Por indómito que seja e sem pavor,
Penetrar as trevas vis do seu segredo,
Revelar o infernal do seu horror.
Arrenego do que disse ou ‘té escrevi,
De tudo o mais, que faça a tábua rasa
Onde engome o engelhado colibri
Que adeja no meu peito a golpe de asa.
E se, por vil fortuna ou pouca sorte,
De mim me aparte um dia à cova escura,
As lágrimas que chore, que as conforte
Ou as enxugue em muito sol de pouca dura.
Gire o astro heróico, o pai sisudo,
Calem-se de Homero as altas vozes
E viva eu cá na Terra que dá tudo,
Salpicão, batata frita, arroz e nozes.
Mas quem, quem é que assim ousa afrontar
De Deus Pai os desígnios mais preclaros,
Suas iras, seus dilúvios de encharcar?
Bem certo que alguém é, mas são tão raros...
Serei eu, pois, o eleito nessa empresa,
O proscrito em folha azul de trinta linhas,
O que hei-de ir ao mar com a rede presa,
Reptar a ira feroz que é das sardinhas?
Seja assim, já que os fados mo destinam,
Seja pois, se essa é sua vontade.
Buscarei as pevides que germinam
Venenosas lá no meio da tempestade.
Irei pois, de mergulho ou de chapão,
Às profundas onde a luz recusa entrar
E trarei, inominável, o melão,
Mas não se espantem se eu vier a mastigar!


Zé Maria do Bocaccio, Setúbal.
(Aliás, já Bocaccio não sou. Casei-me e adoptei o apelido da minha mulher. Agora chamo-me da Fonseca)
Quinta-feira, 26 Novembro, 2009




Olá meus pequenos amigos, é o professor Saraiva quem vos fala desta feita e uma vez mais.

É bem verdade que não nos temos visto muito ultimamente, mas eu explico o que se passa.

Como sabeis fui de férias com a minha prima Ofélia mais a amiga dela, a Carlota, para as termas, em Borba e acontece que conheci uma família de liliputianos que me convidou a ficar com eles a cultivar melões. Depois de tantos anos a cultivar as letras, achei que tinha chegado a hora de cultivar melões e aceitei.

Daí que, a partir de agora, podeis continuar a depositar aqui as vossas inspiradas colaborações , subordinadas ao tema que mais vos aprouver, desde que não meta palavrões. Eu, tenho andado muito ocupado, a ver os liliputianos a trabalhar. Trabalham bem, os pequenos safados. É verdade que uns são mais Lilis e outros mais Putianos, mas dão-se todos bem e comem pouco.

BOAS FÉRIAS !

Olá amigos é o professor Saraiva quem vos fala, na ocasião.
E a ocasião é de vos desejar boas férias e deixar-vos esta pequena canção de embalar, que minha mãe cantava (já em desespero de causa) para me adormecer, quando eu me punha com birras e coisas assim... Uma linda canção. É pena não dar para se ouvir a música...

DEIXA-TE

DISSE-LHE EU

DE PALHAÇADAS

PORTA-TE

INSISTI

COM JUIZINHO

QUANDO NÃO

ACRESCENTEI

LEVAS BEM DADAS

BEM ASSENTES

PRECISEI

DUAS LATADAS

BEM NO MEIO

CONCLUÍ

DESSE FOCINHO



É lindo, não é?...
Boas férias e até logo.


sou pequenino mas não ... (isso vejo eu)


Já vi tudo. Vocês é daquela gente que dá mesmo gosto. Esta semana recebemos aqui dois poemas dois, subordinados ao mote proposto. O resto, os 452 poemas que cá chegaram falavam de tudo, menos do que era pedido. Até poemas a falar de moscas da fruta, cá chegaram! Disso e de puré de batata e salsichas enroladas em couve lombarda... Vejam só! Uma parvoíce completa.
Amigos, quando vos der para improvisar, concorram ao Festival da Canção.
Mas, pronto, jogo é jogo e o que está, está e assim sendo, esta semana nem deu muito trabalho escolher o vencedor.
Foi só fazer o truque do dólitá...
Saiu este:

sou pequenino, mas não
me faz grande confusão
porque deus é um matulão
e prega-te um estaladão

João, de Azeitão


E agora, o outro...

acordei sobressaltado
qualquer coisa me acordou
um barulho inusitado
que muito me assustou
não consegui perceber
na primeira ocasião
de onde vinha, quer dizer
se do tecto se do chão
apurei o meu ouvido
desafiando o temor
com o pescoço estendido
a ver se ouvia melhor
esperei um bocadinho
e lá se ouviu outra vez
devagar e de baixinho
com uma certa timidez
mas bem sonante contudo
bem sonante e soletrado
quem falava não era mudo
e tinha bem decorado
uma espécie de refrão
um pouco tonto talvez
mas sempre em repetição
uma e outra e outra vez
mas de onde vinha afinal
essa voz misteriosa
de timbre meio gutural
e ao mesmo tempo fanhosa
e que quer ela afinal
o que busca o que reclama
será esp'rito ou animal
debaixo da minha cama
e será que vem por bem
ou será que é bicho mau
devo dar-lhe um passou-bem
ou devo dar-lhe com um pau
seja o que for é pequeno
a julgar pela voz que tem
mas o lacrau tem veneno
e é pequeno também
pequeninas as bichezas
que provocam infecções
por isso nunca há certezas
e todas as precauções
mesmo as mais disparatadas
podeis crer não são demais
que anda aí almas penadas
coisas sobrenaturais
mas desta feita parecia
uma coisa bem real
uma voz que repetia
uma lenga lenga tal
que a muito custo se ouvia
difusa na escuridão
uma voz que repetia
numa espécie de obsessão

sou pequenino, mas não
me faz grande confusão
sou pequenino, mas não
me faz grande confusão
sou pequenino, mas não
me faz grande confusão

fui ver
e era o cão.


Zé Grifos, de Viseu

E voilá! Prémios também não há e agora vai tudo de férias, como deus manda.
Voltamos aqui lá para Setembro... mas não se acanhem de ir mandando o que quiserem...
Ou seja, a ideia é esta: Isto fica aberto e vocês mandem - chamemos-lhe assim - os vossos postais de férias. Tudo sem compromisso e sem mote obrigatório. Vale tudo o que vos inspirar, durante estes dias de prazenteiro descanso e folgança.
Em voltando, a gente logo acerta contas.
Sede compassivos, que para crueldade já basta estar vivo e levar com o Jorge Gabriel na RTP 1
Saúde e boa praia.

"sou pequenino, mas não me faz grande confusão" - um mote pateta, já com a cabeça noutro sítio

Pois, esta que vedes é a nossa amiga Alicinha, já a fazer planos para as férias que se aproximam, a passo de cavalo marinho...
Ela sempre foi uma rapariga muito organizada, por isso mesmo a escolhi para organizar a balbúrdia, a que a minha alma poética deixa, por vezes, chegar este cantinho e o meu lava loiças.
Serve também para vos ir avisando que estamos quase a ir, portanto, de férias, portanto. (A repetição é propositada. Chama-se, em retórica, uma "repetição propositada"). Mas disso vos daremos conta no final desta semana.
Entretanto deixem que vos apresente o mote escolhido aleatoriamente por um anão para esta semana:

"sou pequenino, mas não
me faz grande confusão"

"E há boas razões até..." - os laureados

Olá amigos é o professor Saraiva quem vos fala, apesar de tudo.
E o que lá vai, lá foi, como é o caso da semana passada. Chegamos portanto à hora de fazer contas com a História e alourar os Cids. Metaforicamente, já que não temos coroas de louro para oferecer, nem este Momento está fechado aos palermas que pintam o cabelo. Seja de louro, ruivo, ou preto e branco aos quadradinhos, como as camisolas do Boavista. Mas, chega de reflexões profundas e especulações filosóficas. Vamos ao que interessa.
E constato uma vez mais e sem surpresa que sois todos uma bela corja de garganeiros! Não vos cheirou, a borracha das barbatanas... Os óculos de ir às conchinhas não vos encheu o olho... Sois todos e sempre a mesma coisa, carago, como se diz em galaico-português. Mas não esperareis muito, para saberdes o que que é bom para a expectoração e tosse seca.
Antes disso vamos a votos.
E o eleito desta semana é o nosso telespectador da Trafaria,

Joaquim Bifes

não! eu não!
eu preciso de comer carne
preciso de comer bifes
sou de um raça que ainda come carne crua
os meus antepassados penteavam-se com ossos
saudavam-se com rugidos
eu preciso de rasgar com os dentes
enrolar com a língua
engolir os suculentos rojões da existência
sem pão nem poesia
e há boas razões até
p'ra isto ser como é


Este primeiro lugar é quase uma questão de respeito.
Um tipo que escreve uma coisa destas, nunca se sabe, o dia em que se passa e desata a morder toda a gente. Com esta malta, nunca se sabe. Não é medo, é respeito.
Agora, os outros...

L.A.Brego, de Caraças (Banezuela?...)

e há boas razões até
p'ra isto ser como é.
e o mote tal como ele é
também faz parte
também é?
vai p'r'aqui já um salsifré
já estiveram na água pé
que não é com capilé
que se fica assim choné
podes crer por minha fé
que já vi muito banzé
á porta de muito café
muita maria muito zé
que mal se tinham de pé
e se lhe perguntavam como é
olhavam p'ra ti de vié
babando-se como um bébé
respondiam madié
e há boas razões até
p'ra isto ser como é


Zé Tó, estás a ver , de Xabregas

Ainda bem que me perguntas
Que assim eu explico-te já
No essencial estás a ver
O que mais importa pá

As regras essenciais
Que regem o funcionamento
Das coisas materiais
E as outras do pensamento
Apesar de parecerem
À primeira tão diversas
Acabam no fim por serem
Regidas sem mais conversas
De uma forma equiparada
E ambas ao cabo e ao fundo
Sujeitas à tabuada
Que acerta as contas do mundo
Essa lei universal
Que faz com que o agrião
Não nasça a um metro e tal
E cresça rentinho ao chão
A que faz com que as formigas
Andem em fila indiana
E aos beijinhos muito amigas
Até ao fim de semana
Anda cá que que isto é depressa
Não tem ciência nenhuma
Explica-se sem mais conversa
Já que a razão é só uma
Isto tudo que tu vês
Que anda no mundo e faz pó
Não tem porques, nem porquês
A razão é uma só
Ou se quiseres mais rigor
E de uma forma geral
Faço-te eu esse favor
E mudo já para o plural
Mas no fim vai dar ao mesmo
Não altera mesmo nada
Uma duas tudo a esmo
Tudo ao mesmo tudo ou nada
E há boas razões até
P’ra isto ser como é


Inóspito S.S. , de (?)

Isto o caso é o seguinte
P’rà coisa ficar bem feita
Junta-se aí umas vinte
Laranjas de cor perfeita
Cortam-se ao meio depois
Com uma faquinha afiada
Cada uma aberta em dois
Espalhadas na bancada
De seguida vais buscar
Um jarrinho bem lavado
Coisa que dê p’ra levar
Um litro bem aviado
Pegas depois em metade
De uma laranja qualquer
E esprèmesea-la com vontade
Com toda a força que houver
E repetes em seguida
Esta mesma operação
Com cada uma partida
Com a tal faca do pão
Com cuidado no entanto
Se tiveres feridas na mão
que o sumo dela arde tanto
ou quase como o limão
mas o que importa não esqueças
o que é fundamental
é ir espremendo sem pressas
até à laranja final

E p’ra sacar mais suminho
Podes espetar um garfinho

E não te digo mais nada
Já sabes a laranjada

E se a queres beber fresquinha
Esperimenta por uma palhinha

E há boas razões até
P’ra isto ser como é.


Insólitos Sintéticos , de (?)

“Olá estás bom”

diz-se sempre olá estás bom
quando a gente encontra alguém
e diz-se que é de bom tom
que o outro pergunte também
mesmo que esteja nas tintas
mesmo que esteja a cagar
mesmo que finja que minta
que nem te esteja a escutar
é um tique se quiseres
uma coisa já antiga
mas que te obriga a fazeres
sempre essa pose amiga
e um sorriso também
fica bem e a condizer
e se perguntares pela mãe
então nem queiras saber
não haverá quem te conteste
o vinte em diplomacia
o vintém?! foi o que disseste'!
oh valha-te a virgem maria

mas isto vinha à colação
da chamada educação
e há boas razões até
p'ra isto ser como é


Feijão, de Lata

vai primeiro a saudação
bom dia sou o Feijão
a seguir vamos ao tema
aqui vai o meu poema

pode haver incongruência
numa primeira impressão
a julgar pela aparência
pode dar a ilusão
que certas coisas não têm
razão nenhuma de ser
que estão a mais e só vêm
cá para nos aborrecer
coisas sem utilidade
coisas sem explicação
coisas que em boa verdade
não se engolem nem com pão
coisas que deixam no ar
a profunda interrogação
não sei o que foi o jantar
mas deram-lhe no carrascão
é que só assim se explica
por bezana do divino
porque é que a morte não estica
e o futuro é pequenino

mas não vou armar-me em esperto
deus é que sabe o que é certo
e há boas razões razões até
p'ra isto ser como é

e agora p'r'acabar
só me resta desejar
com sincera simpatia
saudinha e bom dia


Cristina Amália? Amália Cristina? , Nova Iorque

tudo tem na vida um termo
tudo tem na vida um fim
um propósito um sentido
tudo na vida é assim

como o rio que sempre corre
sem saber onde é a foz
mas tem por certo que morre
como um dia todos nós

tudo na vida se explica
nesta lei intransigente
ninguém fica p'ra semente

tudo marcha ninguém fica
e há boas razões até
p'ra isto ser como é


Manuel José Pedro Francisco, de Vira Nova d’Outrém

Há boas razões até
Podes mesmo crer, ó Zé,
Para um gajo armar banzé
P’ra deixar de ser otário
E virar tudo ao contrário

Há boas razões até
Podes mesmo crer, ó Zé,
P’rà bronca e p’rò salsifré
P’ra deixar de ser burgesso
Virar tudo do avesso

Há boas razões até
Podes mesmo crer, ó Zé,
Para fazer finca-pé
P’ra agarrar nesses sacanas
Virar tudo de pantanas

Há boas razões até
Podes mesmo crer, ó Zé,
P’rò murro e p’rò pontapé
Acabar co’ as macacadas
E virar tudo à estalada

Porque eu já ando virado
Com as coisas como elas são
Vire-me eu para que lado
Me virar, é uma aflição
É o vira c’um pé no ar
E o outro nem chega ao chão
Nós temos de nos virar
Porque não há mesmo razão
Olarilarilolé
P’ra isto ser como é


Assinatura ilegível, de sabe deus quem e de onde

Há boas razões até
P’ra isto ser como é,
E é também o que dizia
O meu avô tão saudoso,
Homem de sabedoria
Apesar de já idoso,
E morreu feliz, coitado,
Rosadinho e anafado,
A comentar c’os botões
Do pijama que, no fundo,
Há sempre boas razões
P’ra ser como é mundo:
P’ra os gatos e outros felinos,
Terem, como os cães, caninos;
P’ra instantaneamente ser
Uma palavra comprida;
P’ra, da coisa por comer,
Nós dizermos que é comida;
P’ra em Díli haver gente
Nem por isso diligente
Para haver quem se desunhe
Na viola, cheio de garra,
Embora, de facto, empunhe
Nas unhas uma guitarra;
Razão há sempre, o que é
Que não se sabe qual é


E voilá! Por esta semana ficamos neste pé.
Quanto ao prémio, vai ser assim...
Como debaixo de água não há bifes, o amigo Bifes não precisa dos óculos para nada. Do que precisa mesmo é de umas luvas de amianto, para virar frangos e assar entremeadas e isso, de momento, não temos.
As barbatanazinhas também já têm destino. Vão para o meu neto, que tem 6 anos e gosta muito de nadar, com a cabeça dentro de água. Estão-lhe folgadinhas, mas ele põe uma palmilhas e calça umas meias de enchimento. Já está tudo previsto.
Quanto ao mote para a semana que se apresenta...
Está na caixinha arriba.
Boa sorte, boa saúde, boa viagem, boa tarde.

"e há boas razões até / p'ra isto ser como é" – o mote, tal como ele é

Como podeis ver, é de profunda reflexão e atilada filosofia, o mote, que esta semana vos proponho. Uma velha máxima dos sábios japoneses, com quem tive o privilégio de privar, durante a minha passagem por umas termas que lá havia.
Espero que a imagem junta vos inspire e estimule. Serve também para ilustrar o prémio que vos aguarda. Um magnífico conjunto de barbatanas e óculos de ver conchinchas em material aborrachado .

É também aqui que podeis deixar as vossas generosas colaborações. Poderia não ser, mas é.
Como dizia o mestre...

"e há boas razões até
p'ra isto ser como é!"

na semana em que faltou a margarina

Caspité e banha de porco, com vossa licença, é o professor Saraiva, como de costume, quem vos fala, novamente.
Chegados ao termo e ao cabo de mais uma semana, cabe-me agora a grata tarefa de vos anunciar o vencedor. Aquele que vai receber a maravilhosa e vanguardista engenhoca que manda casas pelo ar. Enfim, vai receber, não será bem assim, que o que se passa é que a aparelhagem está fixa ao chão. O meu amigo vai ter de trazer a sua casa para a gente a atarrachar ao dispositivo. Só depois é que poderá disfrutar da maravilhosa invenção e da estimulante experiência.

Posto isso, amigos e vates, vamos ao que nos trouxe.
E o vencedor desta semana há-de ser...

Ridícula Heussei Jaouvi e Basta, margens do Reno

a sagrada clavícula
de uma santa ridícula
um osso sem carne
já por aqui passou

já foi celebrado
em rimas cantado
e até deu um prémio
que alguém levantou

e mais coisas estranhas
manhosas patranhas
rimas rebuscadas
valentes cagadas

motes rebuscados
temas arrevesados
ideias fatelas
valentes pielas

já nos habituaram
aos maiores desafios
e à força levaram
a vários desvarios

foi pulgas e bacalhau
partes gagas e água fria
orelhas de carapau
mais a prima da tua tia

agora chegou ao fim
nem sequer para o disparate
conseguem nem mesmo assim
manter do mote o quilate


quereis então que glosemos
essa não coisa no pão
o mote quereis que o barremos
em gordurosa intenção

de forma rimada e meiga
com uma faca pequenina
e se não houver manteiga
pode ser sem margarina.

Esta distinção é o que se chama a “bofetada sem mão”. Para que se veja de que massa somos feitos, resolvemos premiar o palhaço que mandou esta merda a dizer mal do mote. Que lhe faça, o prémio, bom proveito e queira deus que chova.

Agora o resto. O resto vai tudo à nota de vinte, já que não há nota maior. O mesmo é dizer: sim senhor!, assim até dá gosto.

Patrício Filho, Berlengas

Tudo não se pode qu’rer
E ademais, se mais se quer
Tanto mais se há-de perder!,
E então, p’ra mim… pode ser,
Espera, eu vou-te já dizer...
Para quem sabe o que quer,
Pode ser, sim, pode ser...
Aquilo que Deus quiser.
Porque aquilo que vier
É o que aqui há-de morrer!

Não havendo atum em posta
Também pode ser sangacho,
Bom petisco p’ra quem gosta
P’lo menos é o que eu acho...
Se não houver do especial,
Pode o tinto ser do lote,
Tanto me faz, mal por mal,
E é mais barato o calote,
E não sendo o bife acém,*
Pá, nem que seja da pá...
Não há comboi' p’rò Cacém,
Vou só até Massamá.
Se faltar o bacalhau,
Vou-me às batatas a murro,
E quanto ao arroz, tchau tchau!,
Que o estrugido cheira a esturro!

P’ra que há-de ser a gente
Exigente, se exigir
Tanto exige ao exigente
P’ra tão pouco se auferir?**

Sobre a sandes do almoço
P'ra comer ao meio-dia,
Bom, mentir também não posso:
Sim senhor, eu preferia
Sem a gordura mais meiga,
Cremosa, dourada e fina,
Mas se não houver manteiga,

Pode ser sem margarina

* Verso alternativo: E não sendo o bife a 100,
** Verso alternativo: P’ra tão pouco se… au!... ferir?

Anónima do Caxedré, também conhecida por Júlia Felorista

I
Ou é ou foi: on ne peut
pas être et avoir été!,
a não ser que tenha sido
alguém o que ainda é…

Comprar manteiga ou ficar
c’o dinheiro – há que escolher!
Le beurre et l’argent du beurre,
isso é que não pode ser!

II:
Não se pode ter na eira
sol, e chuva no nabal,
a não ser um pela Páscoa
e a outra p’lo Natal.

(Ou então que entre os dois
a distância seja tal
que fique o nabal em Ceira
e a eira no Bombarral…)

III
E se não houver manteiga
Nem dinheiro p’rà comprar?
Se o sol assolar a veiga
E a chuvinha nos faltar?
Se se resseca o caneco
E evapora a vitamina?
Venha seco o papo-seco
– Pode ser sem margarina!

Apreensivo Lopes, de Angústias Velhas, Tàsquinado

E quando a hora chegar
De eu me ir de este mundo
Se não for exagerar
Quero pedir mais um segundo
E se me for concedida
Uma tal graça porreiro
Quero o segundo em seguida
Que este foi só o primeiro
E nesse segundo garanto
Não vou ser muito exigente
Se não houver tempo p’ra tanto
Com o que houver fico contente
Não hei-de regatear
Nem vou ficar mal disposto
Se começar a nevar
E estivermos em Agosto
Nem hei-de fazer escarcéu
Se um golpe de vento frio
Me atirar com o chapéu
Ao charco para o meio do rio
Não digo mal de ninguém
Nem da casa ou do serviço
Nem nomes à tua mãe
Não senhora, nada disso
Se não houver luz da vela
Nem sebo para o pavio
Vemos a telenovela
Na Internet sem fio
Se não houver já o amor
Haja ao menos um carinho
Água fresca para o calor
A alma aquece-a o bom vinho
Ao menos a frase meiga
Que ilude a hora assassina
E se não houver manteiga
Pode ser sem margarina


eme, Almada

Sandes de leitão..
Mas tem de ser com pão?
E… a manteiga de fora????
Não pode... ficar a flora?!!!!

Eu voto na sandes de leitão
Com manteiga mas sem pão!!

Ermelinda, aliás Carlos

e se não houver manteiga
pode ser sem margarina
e se não houver maleita
pode dizer-se está fina
e se o cão diz que não se deita
dá-lhe com uma varinha fininha
e se a traça come a colcha
dá-lhe com a naftalina
e se não couber na caixa
arranja uma maiorzinha
e se o mar bate na rocha
antes isso que ao contrário
e se a minha avó não morresse
ainda hoje era viva
e se a porca torce o rabo
o parafuso é que enrosca
e se vais andar de barco
avia-te primeiro em terra
e se não se importam muito
eu ficava-me por aqui

Ágnes Keletika, Carcavelos

Vou dar-vos uma receita:
Enchidos, não nos comais,
Que pouco vos aproveita;
Comei antes vegetais,
Frutos secos, queijo Feta,
Só produtos naturais,
E integrai na dieta
Arroz e pão integrais,
E comei fruta, isso sim,
E em grande quantidade,
Que vos dá, ide por mim,
Saúde e longevidade.
Deixai de lado a gordura,
E a carne, se a comeis,
Não a façais em fritura,
Melhor é que a grelheis.
Sobretudo, comei sem
Qualquer gordura animal,
Que só não vos fará bem,
Como até faz muito mal!
Crede, pois, no que esta leiga
Tão doutoralmente ensina,
E, se não houver manteiga,
Pode ser sem margarina.


Maria Margarigda Vieigas, de Manteigas, Distrito da Guarda

Comam o pão sem manteiga,
A gordura mais maligna
E se não houver manteiga
Pode ser sem margarigna

E por esta semana, ficamos conversados, meus bons amigos. O mote que vos proponho para a que entra, confirai-o na prateleira de cima, onde podereis encontrar igualmente uma singela imagem inspiradora, que vos pode ser útil, numa aflição.

Saúde e prosperidade. E comei pão!

uma imagem vale mais que mil sandes de leitão sem manteiga. Os vossos pedidos, perdão, poemas, é deixá-los aqui também, que o empregado já os leva

Olá amigos e etc, etc, uma vez mais...
Deixo-vos agora esta fotografia, como inspiração para o mote desta semana.
Esta fotografia tem uma história! Quem vedes, em pose sensual e vigorosa, encostado ao balcão, sou eu próprio, aqui há uns anos, quando participei num western, a convite do meu amigo Fritz Lopes.
Nesta cena, eu esperava pelo empregado para lhe pedir uma sandes de leitão sem manteiga e uma água do Vidago.
Na cena seguinte, haveria de proferir a única fala que me foi atribuída na fita e que terminava com esta frase enigmática, que dizia enfrentando o empregado, enquanto a câmara fechava o plano sobre o meu rosto hermético: "E se não houver manteiga, pode ser sem margarina!"
Aqui, as luzes baixavam, o empregado baixava-se, eu baixava-me e acabava o filme.

o mote para a de hoje a oito dias


Olá amigos, etc, etc... vamos direitos ao assunto.
O mote para esta semana é:

"e se não houver manteiga,
pode ser sem margarina"

Pragmático e polinsaturado.
O prémio é que já é outra conversa.
Desta vez não olhámos a despesas, nem mariquices e temos, para vos oferecer, esta cena, que não sei como se chama, que serve para mandar casas pelo ar.
É fixe e funciona, que eu já experimentei. Ideal para o Verão, mas também é bom para o Inverno, se o pinote levar a casa para cima das nuvens, já se podem fazer piqueniques, que, por cima das nuvens, não chove. Está bem pensado, ou não? Fui eu que pensei.

mais uma semana de 9 dias

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala, desta feita para vos anunciar que a extensão da semana se deve à praia, mas se foi porque adormeci na praia, se foi porque apanhei um escaldão, se foi porque apanhei uma indigestão de cadelinhas ou uma grande cadela, ou por outra razão qualquer, pois bem, não tendes nada a ver com isso! Satisfazei-vos, pois, com esta lacónica satisfação que vos dou, até porque é a que consegui arranjar e quem dá o que arranja, a mais não há quem o constranja.
Agora o prémio desta semana é que, vou-vos dizer, foi muito complicado, devido à altíssima qualidade de todas as poesias a concurso. Depois de muito reflectir – ai, o me doíam as têmporas de tanto tempo reflectir… –, decidi aplicar uma fórmula muito especial que guardo para estas ocasiões e que é a seguinte: p=u-1, em que p se lê “primeiro” e u se lê último. Traduzida em linguagem mais chã, a fórmula que usei foi, portanto, “os penúltimos são os primeiros”. Esta fórmula funciona sempre muito bem e esta vez não foi excepção, porque me levou, de facto, a escolher para o primeiro lugar a poesia vencedora:

Raspas, Limão de Cima, Brisas Fescas, Geralmente

o que arde diz que sara
o que sara diz que cura
o que avança diz que pára
promete o que diz que jura

o que arde diz que sara
deve ser a parvoíce
talvez mesmo a mais ignara
que alguma vez alguém disse

o que sara diz que cura
ora aí está outra vez
o que se me afigura
ser mais uma estupidez

avança o que diz que pára
eu aqui nem digo nada
já que é por demais clara
a palermice chapada

promete o que diz que jura
é a cereja no bolo
p'ra completar a figura
no caso figura de tolo


e se ela pagasse imposto
a parvoíce a granel
já tinhas quase que aposto
p'ra comprares um hotel.

Será portanto este nosso blogospectador que receberá um magnífico cinzeiro todo alcatifado que tornará muito mais acolhedor o seu lar.

Em segundo lugar, temos, eh Zeco!, as outras poesias todas, cujos autores receberão, por isso, dois degraus de escada rolante cada um. A escadaria rolante de 16 degraus está já à vossa disposição do estação do Rossio, onde eu já a fui colocar à bocadinho, restando-vos apenas a cada um, mediante a devida identificação a um funcionário do Momento de Poesia que se encontrará no local devidamente identificado ele também, desmontar dois degraus dos 16 e levar para vossa casa. Escusado será dizer que o último a chegar é o que terá menos trabalho…

Duarte de Cavalgar e Todacela, Barreiro, ao pé das bombas

o que arde diz que sara
o que sara diz que cura
o que avança diz que pára
promete o que diz que jura

julião era bombeiro
passava a vida a bombar
a bombar o dia inteiro
de manhã ‘té ao jantar
do jantar até à ceia
porque isto a vida ‘tá cara
p’r’acudir ao pé de meia
o que arde diz que sara

diz que sara diz que ajuda
que sempre é um aconchego
enquanto a sorte não muda
não havendo melhor emprego
diz a sara, a mulher dele,
que ele bem tenta e procura
e faz-lhe festas no cabelo
o que sara diz que cura

mas ela sabe também
do mundo as contradições
bomba um tipo e dá-lhe bem
e não vê compensações
e ninguém se chega à frente
não se vê quem dê a cara
se há quem repare na gente
o que avança diz que pára

para a pata que os pariu
é o que apetece dizer
às vezes ‘té desconfio
que p’ra isto se resolver
só arreando o escarcéu
como se fez com a ditadura
o primeiro era logo eu
promete o que diz que jura

Nélson Almirante Reis, Penha de França, Lisboa

Eu cá nem faço por mal
São as cartadas da sorte:
Se dá a música à morte
Que é qu’ele espera afinal?
Afano-lhe o cabedal
E ele em nada repara
Só lhe faz bem, grand’arara
Qu’em ficando a arder agora
Logo a vida lhe melhora
O que arde diz que sara…

Quando a Sara se levanta
Como é doente, coitada
Dá-lhe uma sede malvada
Que lhe apoquenta a garganta
Mas ela não se ataranta
Vai um de três com mistura
Passa-lhe logo a secura
É barato e sem receita
Serve p’ra toda a maleita
O que Sara diz que cura

A história passa-se assim:
O gajo vem-me afanar
C’o fogante a ameaçar
E avança para mim
Tento evitar, mas enfim,
Como ele diz que dispara
Leva um estalo na cara
E o passo que deu em frente
Volta p’ra trás de repente
O que avança diz que pára

Não que eu seja vigarista
Até antes p’lo contrário
Mas se aparece um otário
Que me sorria e insista
Que o que ele quer é alpista
Dou-lhe aquilo que procura
Na sua alegre candura
Cá p’ra mim vai de popó
Até porque a gente só
Promete o que diz que jura

Sura Cara Ammays Barata, Reboleira, Cidade Jardim, Amadora

«O que arde diz que sara,
o que sara diz que cura…
Ai, e a mim quem me dera
que houvera quem me sarara
com a sua tanta doçura
a ferida que dilacera
a minh’alma doce e pura!
Ó que fogo me devora,
me perturba, desampara,
me faz perder compostura!
Compreende-me a senhora?»,
perguntava à dona Sara
o senhor seu padre-cura.

«O que avança diz que pára,
promete o que diz que jura,
mas que se cuide a mentira,
porque pronto se declara
a quem a jura descura
de Deus a suprema ira
que castiga a impostura.
Quem só da boca p’ra fora
fala, melhor se calara!»,
diz a Dona Sara ao cura,
«Diga então e sem demora:
Promete que, se não pára,
Avança mesmo? Sim? Jura?»

Américo do Sul e Ilhas, Esparregado

o que arde diz que sara
a minha mão na tua cara
o que sara diz que cura
palha seca não é verdura
o que avança diz que pára
mas quem passa nem repara
promete o que diz que jura
mentirosa criatura

e o que sara diz que arde
antes cedo que mais tarde
o que cura diz que sara
se não for doença rara
o que pára diz que avança
logo à frente vai a pança
diz que jura o que promete
cinco vezes doze dezassete

o que arde já ardeu
diz a sara e digo eu
o que cura é o fumeiro
trás o pão e molha no cheiro

e se avança ou fica assim
quem jura e faz o contrário
é uma raça p’ra mim
que nem merece comentário

Fácil Não Tenho

"Gasóleo na noite escura"

josé antónio nunca disse
que não queria um pãozinho com manteiga
vacas à solta pastavam-lhe por entre os grelos cosidos do cabelo
tenho mais em que pensar - rugia entre favas
o meu quintal é o centro do universo
não me importa sol ou sombra
todos os vermes são filhos de deus
as minhocas é que são filhas da puta
e as formigas é outra conversa
quando o sol bate com os costados no zinco do telhado
amélia vem à janela e começa a dizer disparates
o que arde diz que sara
o que arde diz que sara
ninguém lhe liga e alguns jogam-lhe pedras e pevides
o que sara diz que cura o que sara diz que cura
cala-te cavalgadura
atiram-lhe em ferradura
a mulher do padre cura mais a coxa do Belmiro
uma velha meio louca
que lê a sina nas tripas
e nas cascas das santolas
e o que avança diz que pára
olha para trás e hesita
três gagos saem da esquina
a comer batata frita
a zanaga do Belmiro cospe no chão e tropeça
os gagos lançam suspiros até encher uma travessa
promete o que diz que jura
acendem-se as lamparinas
gasóleo na noite escura

Mr. X

O corredor em pedra
como um exemplo a seguir
do que ainda deve ser feito
e, diga-se desde já,
as condições necessárias
as condições necessárias
nas suas respectivas áreas
O que arde diz que sara

os losangos da placa central
num material ainda a definir
a sua intenção não é transformá-lo
fazer um piquenique com sardinhas
umas sombras e uns bancos
mesmo desmontáveis ou algo assim
mas não querem saber
O que sara diz que cura

não estiveram presentes
faltaram também os outros
e fizeram correr o sangue
ao longo da costa, desde a fronteira
será ainda possível estabelecer contacto?
responder em tempo útil?
não foi ontem possível apurar
O que avança diz que pára

de forma dissimulada,
burla qualificada,
explicou a filha da pianista,
com problemas semelhantes,
a impossibilidade de recomeçar do zero
premiado e traduzido
comparando-o a um líder mafioso
promete o que diz que jura

Cardoso, Ginjal

“Laurinda não faças merda”

o que é doce não amarga
o que pica faz coceiras
Laurinda não faças merda
não arranhes as cadeiras
o que arde diz que sara
e não te digo mais nada
tu sabes bem do que falo
não te armes em distraída

o que vale é que as montanhas
não saem de onde estão
Laurinda não faças merda
aplica-te no acordeão
o que sara diz que cura
mete-me isto na cabeça
acredita que ainda acabas
um dia por me agradecer

e agora vamos lá
a falar de coisas sérias
Laurinda não faças merda
que já basta de misérias
o que avança diz que pára
só que este não parou
e mandou para o cemitério
a tua mãe e o teu avô

por isso vê lá se tu
atinas aí em França
Laurinda não faças merda
és a última esperança
promete o que diz que jura
esta frase é um mistério
mas faz uma criatura
perceber que o caso é sério


Jorge, Seixal

O QUE ARDE,
sei dizer
que a gente o sente arder.
DIZ QUE SARA.
Há-de se ver...
Vá lá a gente saber
O QUE SARA
ou que não sara
ou em que é que a coisa pára…
DIZ QUE CURA.
Pode ser.
O que se sente é arder…
O QUE AVANÇA,
se é p’rà frente,
é uma coisa inteligente!
DIZ QUE PÁRA.
É p’ra ganhar
mais balanço p’ra avançar!
QUEM PROMETE,
a bem dizer,
só p’lo facto de o fazer,
DIZ QUE JURA
(sem contar
quem promete não jurar…).

Quanto ao mote da próxima semana, vede aí na caixinha arriba, se fazeis o favor, sim?

e não estou para palhaçadas

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala e não estou para palhaçadas.

Quando cheguei a casa, tinha esta fotografia no gravador de chamadas, a dizer: "Com que então tinhas acabado com as almas do outro mundo?" e "Ah ah ah" durante cinco segundos com reverb e delay...

Olhai, eu aviso já, desta vez solto-vos mesmo o Anhuca, que ele está mortinho para afiambrar um poltergeist.
(Reparásteis no subtil trocadilho do "ele está mortinho"...?)

o que eu às vezes me rio sozinho...

Olá amigos, é mais uma vez o professor Saraiva quem vos fala, ah, ah, ah, ah, ah... O que eu às vezes me rio sozinho, ah, ah, ah, ah, ah!!!... Agora estava a ler uma notícia do Notícias do Momento, aqui mesmo ao lado, e estava lá escrito assim: "o famoso visionário Anhuca preferiu não se pronunciar". Então eu comecei a pensar, ah, ah, ah, ah, ah!!!... que, se ele é mesmo visionário e disse que não queria dizer nada, então o melhor, ah, ah, ah, ah, ah!!!... era terem escrito assim: "o famoso visionário Anhuca proferiu não se prenunciar"! Ah, ah, ah, ah, ah!.... Está boa, não está?

vá lá, que estou bem disposto... mais um regalo – é pedalá-lo

Então vá lá, que o mote desta semana é de reboredo, acrescento-lhe então, à lista de regalos e pequenos mimos, esta fantástica bicicleta a pedal. É óptimo para oxigenar enquanto se pedala. E, cérebro oxigenado, ou homem rã, ou poeta inspirado. Aplicai-vos, oh límpicos ciclistas da Grande Arte! Ide a ele, por S. Agostinho, o Joaquim...

o que arde diz que sara – deixe aqui o seu generoso contributo

Olá amigos é o professor Saraiva quem vos fala, desta feita. Aqui tendes mais uma inspirada imagem inspiradora para vos inspirardes e mandardes, na conformidade, inspirados poemas e outrossim, até um anexim. Seja como for, é também aqui (repararam na subtileza com que evitei o trocadilho idiota e não escrevi "aquim", para rimar com anexim e assim?... isto é um requinte a perder de vista)... onde é que eu ia?!...
Não interessa. Os poemas desta semana, é deixá-los aqui, que a Alicinha vai buscá-los depois.
Saúde e prosperidade.

Chispa-te Julião Fragoso, que me ia esquecendo...
O mote:

o que arde diz que sara
o que sara diz que cura
o que avança diz que pára
promete o que diz que jura


para tornar mais acolhedor o vosso lar

Olá amigos, como vedes não voz fiz esperar muito! Passada nem um horinha de vos dizer que aguantésseis que era serviço, eis que me disponho já a revelar os dois fabulosos prémios para o concurso da semana que agora começa:

um bonito cinzeiro todo alcatifado, para maior conforto tanto de fumadores como não


















e dois degraus de escada rolante
para pordes na entrada de vossa casa!






Concorrei enviando os vossos poemas e habilitai-vos a estes magníficos prémios!

E não vos esqueçais nunca de que,
com o Momento de Poesia,
estais a ralar-vos é porque quereis!

a culpa foi das iscas

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala. E pois é, a culpa de mais um atraso foi das iscas!

Saí de casa ontem por volta das onze horas da manhã, com destino ao escritório do Momento de Poesia, para aí vos anunciar o vencedor do concurso desta semana e o mote para a próxima. No caminho, porém, ao passar diante de um restaurante cujo menu anunciava, todo gaiteiro, que havia iscas para o almoço, não resisti a ferrar o dente nesse manjar que eu adoro e que nem calculais há quantos anos me não atravessava o estreito.

Maldita a hora, digo-vos eu, em que decidi que o melhor era matar já ali a fraqueza, antes de pôr em dia este nosso Momento! Não sei com que tinham temperado as iscas (que por acaso até estavam saborosas!) que, mal saí do restaurante, apanhei uma dor de barriga no estômago e uma má disposição acompanhada de vómitos frequentes que não queirais saber! E que só há bocadinho finalmente me largou... Passei a tarde de ontem e manhã de hoje a recuperar desse envenenamento. Evidentemente, põe-se também a possibilidade de não terem sido as iscas e ter sido outra coisa qualquer que eu tivesse comido, mas não vejo bem o quê, porque eu quando comi as iscas ainda estava em jejum e a única coisa mais que eu ingeri ontem foram os meus 4 litrinhos de vinho que sempre bebo a acompanhar a comida.

Mas enfim, o pior já passou e vamos lá aos prémios! Pois bem, os poemas foram tantos e tão bons esta semana que não tive outra solução senão tirar à sorte. É verdade, esta semana foi assim, por sorteio. E tive sorte, porque o sorteio por acaso escolheu o melhor de todos, a que, por essa mesma razão, resolvi atribuir até uma menção honrosa! Além disso, com a devida autorização do seu autor, resolvi também usar a primeira quadra do poema vencedor para mote da próxima semana.

O poema vem-nos então do senhor Agradável Luís Rocha e Rijo, que levará para a simpática localidade de Cinfães do Mouro o seu Kit de sobrevivência de fumeiro e salgadeira, oferta da Blècandeca, e reza assim (o poema):

o que arde diz que sara
o que sara diz que cura
o que avança diz que pára
promete o que diz que jura

o que sobe diz que desce
o que é dulce não amarga
se não tens já não te cresce
cão que morde não deslarga

bate palmas a palmira
para abrir a porta à berta
aí está uma coisa gira
aí está uma coisa esperta

brincar com nomes de gajas
também tem sua piada
desde o momento em que ajas
de forma civilizada

dás-me sopa juliana
e não queres que eu chor’isso
era o mote da semana
já está e não se fala mais nisso

Mas também os outros 12 não lhe ficam nada atrás, como podereis constatar:

João Carolo Fífias

tu não me crepes suzete
não me rales a canela
não me batas em castelo
as claras da paciência

se não me chupas esparguete
não destapes a panela
que ele há mais mar que marmelo
e o amor é uma ciência

andas sempre entremeada
fazes de mim um banana
se toucinho ou nem por isso

p’ra ti é massa folhada
dás-me sopa juliana
e não queres que eu chor’isso

Armando Faísca, Benda Nova

diz o paio para o salame
olha ali o afiambrado
diz o paio queres que o chame
não deixa-o ir sossegado

diz o chispe à orelheira
já não me faz com feijão
se não cachaço a maneira
nem coentro a explicação

diz a couve pr’o repolho
eu cá sou uma cenoura
tenho um caracol num olho
não se nota muito embora

diz a guelra à barbatana
queres à posta ou ao postiço
dás-me sopa juliana
e não queres que eu chor’isso

Bandarilheiro Lopes

dás-me sopa, juliana
e não queres que eu chor’isso
sete dias por semana,
não é dieta é enguiço.

não é coisa que se faça,
acho eu, a uma pessoa.
mas tu és daquela raça...
tens a mania que és broa.

sei de quem, com tais bravatas,
houve um dia que lixou-se.
hás-de vir pedir batatas,
que te darei o arroz doce.

Emecêdois Igualaé, Tarreneg’, Al-Madanaada

Dás-me sopa, Juliana,
E não queres que eu chor’isso?
Isso é tão impossível
Como eu manter-me impassível
Como um leão dormindo a sesta na savana
Se me dão cachaporrada no toutiço!

Elmano Laurentino, Maputo, Moçambique

Dás-me sopa, Juliana,
E não queres que eu chor’isso?
Como és cruel, mamana,
Insensível, desumana,
Não te cria capaz disso…

Trouxe-te uma capulana,
Das mais caras do bazar
Tu não me dás nem banana,
E há mais de uma semana
Que não me queres falar!

Eu sei que esse grande safardana
Do João te foi dizer
Que me viu c’uma fulana.
É mentira do sacana,
Como é que tal podes crer?

Tu sabes que eu, Juliana,
Sou incapaz de traição.
A mulher com que o mufana
Me viu no xipanelana
Era a mãe do meu irmão!

Como és cruel, mamana,
Insensível, desumana,
Não te cria capaz disso…
Dás-me sopa, Juliana,
E não queres que eu chor’isso?

Bufa Mística, Curraleira

juliana esbraceja
afogando-se na tigela
chora o chouriço
lágrimas no pão
a sopa arrefece
à velocidade de um cadáver

Bacalhau Arménio Brás

dás-me sopa juliana
e não queres que eu chor’isso
p.ex. ou ibidém
sou pra ti s/ compromisso

Antónia Ene, Ó, Liveira da Serra

“Dás-me sopa, Juliana,
E não queres que eu chor’isso?”
O mote até é bacana,
a ver se o não desperdiço…

Mas, e uma ideia bonita?
Ah, tenho uma que promete:
“Não te fica bem a chita,
prefiro o crepe, Suzete”.

Não está mal, mas também não
está tão bem como podia…
E que tal “Esperei em vão,
que grande banho, Maria…”?

Desisto! Hoje é mau dia,
já vi que isto não dá mais…
Mas é bom, para a poesia
não ficar grande demais…

eme

poemas que dão para ler
e julianas para comer
sem muita palha e sem chor’isso
pra não dar cabo do tótisso

Arménio Uma Vez Mais , Sesimbra

ai a minha espondilose
ai os bicos de papagaio
se me der uma trombose
se me der o badagaio
se apanhar uma psicose
se me der a travadinha
ou então uma virose
ou uma febre daninha
daquela febre magana
que nos derrete o toutiço
dás-me sopa juliana
e não queres que eu chor’isso

José Manuel Bronco Comascasas, Bruxelas

oh penas do meu amor
galinhas do meu pavor
grainhas do faz favor
não há faíscas que luzam
quando as mágoas não se cruzam
no patamar do desgosto
desde o nascer ao sol posto
grasnam gansos nos pomares
e corujas nos altares
ladram os cães da rabugem
caem telhas e ferrugem
das chaminés improváveis

abre a boca e fecha os olhos
dás-me sopa juliana
e não queres que eu chor’isso
havia de ser giro havia

Areópago Raimundo, Ouriceira

sabes que sopa p’ra mim
derrete-me o coração
tremo que nem um pudim
fico assim sem explicação
dêem-me sopa se quereis
ver-me feliz e contente
nada melhor me dareis
do que um caldinho quente
fico logo sem defesa
qualquer um pode atacar
se me puserem na mesa
a malguinha a fumegar
e então se for de couve
com um feijão a enfeitar
aí até me comove
dá vontade de chorar
a verdade não engana
um porco espinho é um ouriço
dás-me sopa juliana
e não queres que eu chor’isso


E é tudo por hoje. Obrigado pela vossa compreensão e não vos esqueçais de que o mote da próxima semana (22 a 29 de Junho) é:

o que arde diz que sara
o que sara diz que cura
o que avança diz que pára
promete o que diz que jura

Quanto ao prémio, não sejais impacientes, pois que ele em breve vos será dado a conhecer. Palavra de

Saraiva, o professor