Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
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Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

O melão do Bocaccio

Recebi de Zé Maria do Bocaccio um poema sob a forma de comentário, a que passo de imediato a dar destaque de primeira página:

Oh porfessor! long time no sea...como dizem os marinheiros... então agora deu-lhe p'ra cultivar melões! nem de propósito que assim mando-lhe um poema épico que eu escrevi há já muitos anos dedicado ao melão precisamente... espero que lhe agrade e mate as saudades da poesia, que o escaravelho de melão só se mata à base de porrada e grelos. saúde e boa safra!

Do melão nada direi, pois não me atrevo,
Por indómito que seja e sem pavor,
Penetrar as trevas vis do seu segredo,
Revelar o infernal do seu horror.
Arrenego do que disse ou ‘té escrevi,
De tudo o mais, que faça a tábua rasa
Onde engome o engelhado colibri
Que adeja no meu peito a golpe de asa.
E se, por vil fortuna ou pouca sorte,
De mim me aparte um dia à cova escura,
As lágrimas que chore, que as conforte
Ou as enxugue em muito sol de pouca dura.
Gire o astro heróico, o pai sisudo,
Calem-se de Homero as altas vozes
E viva eu cá na Terra que dá tudo,
Salpicão, batata frita, arroz e nozes.
Mas quem, quem é que assim ousa afrontar
De Deus Pai os desígnios mais preclaros,
Suas iras, seus dilúvios de encharcar?
Bem certo que alguém é, mas são tão raros...
Serei eu, pois, o eleito nessa empresa,
O proscrito em folha azul de trinta linhas,
O que hei-de ir ao mar com a rede presa,
Reptar a ira feroz que é das sardinhas?
Seja assim, já que os fados mo destinam,
Seja pois, se essa é sua vontade.
Buscarei as pevides que germinam
Venenosas lá no meio da tempestade.
Irei pois, de mergulho ou de chapão,
Às profundas onde a luz recusa entrar
E trarei, inominável, o melão,
Mas não se espantem se eu vier a mastigar!


Zé Maria do Bocaccio, Setúbal.
(Aliás, já Bocaccio não sou. Casei-me e adoptei o apelido da minha mulher. Agora chamo-me da Fonseca)
Quinta-feira, 26 Novembro, 2009

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