Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
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Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece
Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.
Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...
Até lá, que deus vos cubra!
Olá meus pequenos amigos, é o professor Saraiva quem vos fala desta feita e uma vez mais.
É bem verdade que não nos temos visto muito ultimamente, mas eu explico o que se passa.
Como sabeis fui de férias com a minha prima Ofélia mais a amiga dela, a Carlota, para as termas, em Borba e acontece que conheci uma família de liliputianos que me convidou a ficar com eles a cultivar melões. Depois de tantos anos a cultivar as letras, achei que tinha chegado a hora de cultivar melões e aceitei.
Daí que, a partir de agora, podeis continuar a depositar aqui as vossas inspiradas colaborações , subordinadas ao tema que mais vos aprouver, desde que não meta palavrões. Eu, tenho andado muito ocupado, a ver os liliputianos a trabalhar. Trabalham bem, os pequenos safados. É verdade que uns são mais Lilis e outros mais Putianos, mas dão-se todos bem e comem pouco.
Oh porfessor! long time no sea...como dizem os marinheiros... então agora deu-lhe p'ra cultivar melões! nem de propósito que assim mando-lhe um poema épico que eu escrevi há já muitos anos dedicado ao melão precisamente...
ResponderEliminarespero que lhe agrade e mate as saudades da poesia, que, o escaravelho de melão só se mata á base de porrada e grelos. saúde e boa safra!
Do melão nada direi, pois não me atrevo,
Por indómito que seja e sem pavor,
Penetrar as trevas vis do seu segredo
Ou revelar o seu infernal horror.
Arrenego do que disse ou ‘té escrevi,
de tudo o mais, que faça a tábua rasa
Onde engome o engelhado colibri
Que adeja no meu peito a golpe de asa.
E se, por vil fortuna ou pouca sorte,
Um dia de mim me aparte à cova escura,
As lágrimas que chore, que as conforte
Ou as enxugue em muito sol de pouca dura.
Gire o astro heróico, o pai sisudo,
Calem-se de Homero as altas vozes
E viva eu cá na Terra que dá tudo,
Salpicão, batata frita, arroz e nozes.
Mas quem, quem ousa assim afrontar
De Deus os desígnios mais preclaros,
Suas iras, seus dilúvios de encharcar?
Bem certo que alguém é, mas são tão raros...
Serei eu pois o eleito nessa empresa,
O proscrito em folha azul de trinta linhas,
O que hei-de ir ao mar com a rede presa,
Desafiar a fúria sangrenta das sardinhas?
Seja assim, já que os fados mo destinam,
Seja pois, se essa é sua vontade.
Irei em busca das pevides que germinam
Venenosas no meio da tempestade.
Irei pois, de mergulho ou de chapão,
Às profundas onde a luz recusa entrar
E trarei o inominável melão,
Mas não se espantem se eu vier a mastigar!
Zé Maria do Bocaccio, Setúbal.
(aliás, já Bocaccio não sou. Casei-me e adoptei o apelido da minha mulher. Agora chamo-me da Fonseca)