Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala, na continuação.
Chegados que somos ao termo e ao cabo de mais uma semana de esforçado labor e inspirada alcatifa, só me resta anunciar o eleito, ao que, dito e feito, haverá ainda de acrescentar o seguinte... (é impressão minha, ou esta última frase é um bocado estranha?!...)
Esta semana, uma vez mais fomos invadidos e quase submersos pela vossa participação, mas, uma vez mais, não há bela sem senão, nem pulga que não traga cão, ou vice-versa, como foi o caso e a situação.
Cães e gatos chegaram-nos aos cardumes e às matilhas e com eles carradas de pulgas, que me impestaram a casa e os tapetes de tal maneira que tive de mandar chamar a desinfestação. E ainda lá estão. Os vossos poemas. Só se safaram 3, que eram tão jeitosos, que nem as pulgas lhes pegaram.
Posto isso e baygon no edredon, cá vai, enton...
Em primeiro,
de Edgar Matassete, Olival dos Carvalhais, A-dos-Figos, Arvoredo:
Isto a vida, meus amigos,
É um caso muito sério!!!
Está recheada de perigos,
De suspense e de mistério…
É por isso que o Columbo
Andava sempre a dizer:
“Não sei, mas vou perguntar
O que acha a minha mulher…”
Quando a agreste ventania
Silva entre os pinheirais
E se esvai a luz do dia
E se fecham os portais
E os gatos nos telhados,
No seu lúgubre miar,
Nos auguram tristes fados
Que nem ousamos sonhar,
Uma pessoa nem sabe
Ao certo o que há-de pensar…
…E depois não tem mulher
A quem possa perguntar…
Ouçam! Passos na calçada
E um grito de mulher,
Mas esta névoa cerrada
Pouco ou nada deixa ver…
Que sinistra gargalhada
Corta a noite, de repente,
Como uma faca afiada!!!...
…E arrepia-se a gente
E os gatos continuam
Aquele coro agoirento…
E silvando nos pinheiros
Insiste, sinistro, o vento…
Meu Deus, que se passa aqui?
Mas que crime tenebroso
Estará a ser cometido?
Ouve: não fiques nervoso,
Não te deixes invadir,
P’lo terror, pela ansiedade,
Mantém a calma, rapaz,
E a racionalidade.
Pelo menos isto é certo
(Vá lá, sejamos sensatos!):
Não são as pulgas dos cães
Que fazem miar os gatos.
O resto, aviso já, é tudo deste género. Do piorio. De qualquer maneira, ganha este, já que foi o único que se mostrou interessado no prémio e a gente não quer que ninguém fique traumatizado por causa da poesia.
Em seguidamente fica este:
Anda aí uma escumalha
Gente desclassificada
A gozar com quem trabalha
Uma raça condenada
Que só come e atrapalha
Arrota postas de pescada
Uma espécie de canalha
De impotência confirmada
Oh meu malhão de Sinfães
Oh Virgem dos Carrapatos
Não são as pulgas dos cães
Que fazem miar os gatos
Anda p’raí uma gente
Uns ranhosos bem falantes
Com um falar muito imponente
E uns ares muito importantes
Mas que muito francamente
Se pararmos por instantes
Percebemos facilmente
O sofisma dos moinantes
É chamar oh Guimarães
Se precisares de sapatos
Não são as pulgas dos cães
Que fazem miar os gatos
Andam p’raí deputados
Em ânsias com a Europa
Diz que nem dormem coitados
E alguns só comem sopa
Em discursos inspirados
Querem convencer a tropa
Que eles são os indicados
Dêem-lhe mesa cama e roupa
E são muitos mais que as mães
São bué de candidatos
Não são é as pulgas dos cães
Que fazem miar os gatos
E é essa circunstância
Que vem engatar isto tudo
Lá se vai a importância
A cagança e a jactância
Desses fantoches d’Entrudo
Lá se vai ela coitada
A coxear a pedir
A esmola desesperada
De um lugarzinho na bancada
Do parlamento europeu da perra que os há-de parir
Esta aqui, do Ernesto Simão da Silva, esteve quase para ir direitinho para o balde do lixo, por causa do palavredo, mas a Maria Pandilha é que me segurou. Coitada da rapariga, é uma sentimental, uma nostálgica da revolução.
Agora este ficou em último, que eu cá não gramo gajos caguinchas, sempre com vergonha e a pedir desculpa. Mas não deixam de as ir fazendo. Vejam lá se o gajo não mandou a porcaria do poema! Não sei se deva e muita desculpa e com licença... mas mandou.
Vai lá, então.
De Agosto Pintaínho, Lugar d’Hortaliça, Freguesia do Lugar, Concelho de Também:
Não são as pulgas dos cães
Que fazem miar os gatos
Mas esses bichos são chatos
Fazem dos gatos sapatos
Que bem prega frei João
Que além de frade é ferreiro
E fez um espeto odoroso
Todo de pau de loureiro
Se de Santos a Natal
É Inverno natural
Não é o sol que há na eira
Que faz chover no nabal!
Quem quer vai, quem não quer manda
Quem pode e manda é patrão
Mas quem manda o sapateiro
Querer tocar rabecão?
Todos querem ser Camões
Mas ninguém quer ser zarolho
Tirando em terra de cegos
Onde o rei só tem um olho
Quem tem telhados de vidro
Não se põe a apedrejar
As galinhas do vizinho
Que bem as soube engordar
Grande poeta é o povo
E a sageza popular
Vista de um ângulo novo
Nem é de se desprezar,
Porque quem dá o que tem,
A mais não é. Obrigado!
Mas são as pulgas de quem
Que fazem muar o gado?
E é como vêem!
O televisor apara-lápis entretanto, amigo Edgar, se a vier cá buscar, traga galochas, que aquilo está a dar choque. Acho que foi um dos cães que lhe urinou nas bobinas e aquilo ficou em curto circuíto, por causa do ácido úrico.
Agora os trabalhos que vos esperam na semana que se aurora...
Que achais da ideia de glosarmos, desta feita, desta deixa?...
O que é que bolachas Maria,
Leite quente, ou água fria?...
Pois, eu também não sei.
De prémios... deixem-se disso. A gente depois fala.
Salvações e barretos
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