Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
CUSCUVILHAI! CUSCUVILHAI!... QUE NESTE BLOG QUASE TUDO SE PASSA NOS COMENTÁRIOS!
Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

O marujo da Carmina

Não eram ainda nem três minutos passados da publicação do melão do Boccacio, chegava-me já, por correio ordinário (e mesmo ordinário, por tal sinal!) um poema de uma sua conterrânea, perdão, contemporânea, Carmina Burana Alves, a que passo também a dar destaque de primeira página sem ter de passar pelos comentários. Dizia a senhora:

Caro Professor Saraiva,

Como vocês só têm é porcaria nesse seu blogue, tome lá um poema de jeito, até qu'enfim.

Sua (Transpira, isto é...)

Carmina Burana Alves, marquesa de Consultório

Não há vida mais feliz que é o marujo

Não há vida mais feliz que é o marujo
Navegar e à bolina à lamejinha,
Ir para a cama de peúgas, todo sujo,
Da pila sequer lavar a cabecinha.
Cabecinha e nem sequer que tal apenso
Os tintins e há quem lhe chame tubarões,
Que a vida de marinheiro, é o que eu penso,
É uma vida muito dada a privações.
É uma vida muito dá, valha-me Deus,
E quem o que tem dá a mais não é
Obrigado p’la atenção todos os seus
A seu dono entregarei por minha fé,
Ferra o dente, oh mastaréu, oh meu cabrão
Bolina o portaló, oh meu sabujo,
Eia avante a proa à ré, ou talvez não,
Já não sabe o que é que diz este marujo.

Não há vida mais feliz que é o caruncho,
Na Madeira, no Funchal, a esc’rafunchar.
Escarafunchas tu, também eu escarafuncho,
É a cruz que todos temos de levar.
Mas se a cruz estiver bem escarafunchada,
Tòt’limaites a preceito e com rigor,
A pessoa já não vai tão carregada,
Se a subida é a descer ‘inda melhor.
Se a sagaz sabedoria muito ensina,
Não aprende quem não quer ou quem é burro:
Em chegando com a cruz lá mesmo acima,
Está um gajo à espera para lhe dar um murro.
Ah, que é cheia de surpresas esta vida,
Sobressaltos altos tem e até ‘scolhos
E falta acrescentar, estava esquecida,
que o murro, ‘inda há bocado, era nos olhos.

Sem comentários:

Enviar um comentário