Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
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Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

"E há boas razões até..." - os laureados

Olá amigos é o professor Saraiva quem vos fala, apesar de tudo.
E o que lá vai, lá foi, como é o caso da semana passada. Chegamos portanto à hora de fazer contas com a História e alourar os Cids. Metaforicamente, já que não temos coroas de louro para oferecer, nem este Momento está fechado aos palermas que pintam o cabelo. Seja de louro, ruivo, ou preto e branco aos quadradinhos, como as camisolas do Boavista. Mas, chega de reflexões profundas e especulações filosóficas. Vamos ao que interessa.
E constato uma vez mais e sem surpresa que sois todos uma bela corja de garganeiros! Não vos cheirou, a borracha das barbatanas... Os óculos de ir às conchinhas não vos encheu o olho... Sois todos e sempre a mesma coisa, carago, como se diz em galaico-português. Mas não esperareis muito, para saberdes o que que é bom para a expectoração e tosse seca.
Antes disso vamos a votos.
E o eleito desta semana é o nosso telespectador da Trafaria,

Joaquim Bifes

não! eu não!
eu preciso de comer carne
preciso de comer bifes
sou de um raça que ainda come carne crua
os meus antepassados penteavam-se com ossos
saudavam-se com rugidos
eu preciso de rasgar com os dentes
enrolar com a língua
engolir os suculentos rojões da existência
sem pão nem poesia
e há boas razões até
p'ra isto ser como é


Este primeiro lugar é quase uma questão de respeito.
Um tipo que escreve uma coisa destas, nunca se sabe, o dia em que se passa e desata a morder toda a gente. Com esta malta, nunca se sabe. Não é medo, é respeito.
Agora, os outros...

L.A.Brego, de Caraças (Banezuela?...)

e há boas razões até
p'ra isto ser como é.
e o mote tal como ele é
também faz parte
também é?
vai p'r'aqui já um salsifré
já estiveram na água pé
que não é com capilé
que se fica assim choné
podes crer por minha fé
que já vi muito banzé
á porta de muito café
muita maria muito zé
que mal se tinham de pé
e se lhe perguntavam como é
olhavam p'ra ti de vié
babando-se como um bébé
respondiam madié
e há boas razões até
p'ra isto ser como é


Zé Tó, estás a ver , de Xabregas

Ainda bem que me perguntas
Que assim eu explico-te já
No essencial estás a ver
O que mais importa pá

As regras essenciais
Que regem o funcionamento
Das coisas materiais
E as outras do pensamento
Apesar de parecerem
À primeira tão diversas
Acabam no fim por serem
Regidas sem mais conversas
De uma forma equiparada
E ambas ao cabo e ao fundo
Sujeitas à tabuada
Que acerta as contas do mundo
Essa lei universal
Que faz com que o agrião
Não nasça a um metro e tal
E cresça rentinho ao chão
A que faz com que as formigas
Andem em fila indiana
E aos beijinhos muito amigas
Até ao fim de semana
Anda cá que que isto é depressa
Não tem ciência nenhuma
Explica-se sem mais conversa
Já que a razão é só uma
Isto tudo que tu vês
Que anda no mundo e faz pó
Não tem porques, nem porquês
A razão é uma só
Ou se quiseres mais rigor
E de uma forma geral
Faço-te eu esse favor
E mudo já para o plural
Mas no fim vai dar ao mesmo
Não altera mesmo nada
Uma duas tudo a esmo
Tudo ao mesmo tudo ou nada
E há boas razões até
P’ra isto ser como é


Inóspito S.S. , de (?)

Isto o caso é o seguinte
P’rà coisa ficar bem feita
Junta-se aí umas vinte
Laranjas de cor perfeita
Cortam-se ao meio depois
Com uma faquinha afiada
Cada uma aberta em dois
Espalhadas na bancada
De seguida vais buscar
Um jarrinho bem lavado
Coisa que dê p’ra levar
Um litro bem aviado
Pegas depois em metade
De uma laranja qualquer
E esprèmesea-la com vontade
Com toda a força que houver
E repetes em seguida
Esta mesma operação
Com cada uma partida
Com a tal faca do pão
Com cuidado no entanto
Se tiveres feridas na mão
que o sumo dela arde tanto
ou quase como o limão
mas o que importa não esqueças
o que é fundamental
é ir espremendo sem pressas
até à laranja final

E p’ra sacar mais suminho
Podes espetar um garfinho

E não te digo mais nada
Já sabes a laranjada

E se a queres beber fresquinha
Esperimenta por uma palhinha

E há boas razões até
P’ra isto ser como é.


Insólitos Sintéticos , de (?)

“Olá estás bom”

diz-se sempre olá estás bom
quando a gente encontra alguém
e diz-se que é de bom tom
que o outro pergunte também
mesmo que esteja nas tintas
mesmo que esteja a cagar
mesmo que finja que minta
que nem te esteja a escutar
é um tique se quiseres
uma coisa já antiga
mas que te obriga a fazeres
sempre essa pose amiga
e um sorriso também
fica bem e a condizer
e se perguntares pela mãe
então nem queiras saber
não haverá quem te conteste
o vinte em diplomacia
o vintém?! foi o que disseste'!
oh valha-te a virgem maria

mas isto vinha à colação
da chamada educação
e há boas razões até
p'ra isto ser como é


Feijão, de Lata

vai primeiro a saudação
bom dia sou o Feijão
a seguir vamos ao tema
aqui vai o meu poema

pode haver incongruência
numa primeira impressão
a julgar pela aparência
pode dar a ilusão
que certas coisas não têm
razão nenhuma de ser
que estão a mais e só vêm
cá para nos aborrecer
coisas sem utilidade
coisas sem explicação
coisas que em boa verdade
não se engolem nem com pão
coisas que deixam no ar
a profunda interrogação
não sei o que foi o jantar
mas deram-lhe no carrascão
é que só assim se explica
por bezana do divino
porque é que a morte não estica
e o futuro é pequenino

mas não vou armar-me em esperto
deus é que sabe o que é certo
e há boas razões razões até
p'ra isto ser como é

e agora p'r'acabar
só me resta desejar
com sincera simpatia
saudinha e bom dia


Cristina Amália? Amália Cristina? , Nova Iorque

tudo tem na vida um termo
tudo tem na vida um fim
um propósito um sentido
tudo na vida é assim

como o rio que sempre corre
sem saber onde é a foz
mas tem por certo que morre
como um dia todos nós

tudo na vida se explica
nesta lei intransigente
ninguém fica p'ra semente

tudo marcha ninguém fica
e há boas razões até
p'ra isto ser como é


Manuel José Pedro Francisco, de Vira Nova d’Outrém

Há boas razões até
Podes mesmo crer, ó Zé,
Para um gajo armar banzé
P’ra deixar de ser otário
E virar tudo ao contrário

Há boas razões até
Podes mesmo crer, ó Zé,
P’rà bronca e p’rò salsifré
P’ra deixar de ser burgesso
Virar tudo do avesso

Há boas razões até
Podes mesmo crer, ó Zé,
Para fazer finca-pé
P’ra agarrar nesses sacanas
Virar tudo de pantanas

Há boas razões até
Podes mesmo crer, ó Zé,
P’rò murro e p’rò pontapé
Acabar co’ as macacadas
E virar tudo à estalada

Porque eu já ando virado
Com as coisas como elas são
Vire-me eu para que lado
Me virar, é uma aflição
É o vira c’um pé no ar
E o outro nem chega ao chão
Nós temos de nos virar
Porque não há mesmo razão
Olarilarilolé
P’ra isto ser como é


Assinatura ilegível, de sabe deus quem e de onde

Há boas razões até
P’ra isto ser como é,
E é também o que dizia
O meu avô tão saudoso,
Homem de sabedoria
Apesar de já idoso,
E morreu feliz, coitado,
Rosadinho e anafado,
A comentar c’os botões
Do pijama que, no fundo,
Há sempre boas razões
P’ra ser como é mundo:
P’ra os gatos e outros felinos,
Terem, como os cães, caninos;
P’ra instantaneamente ser
Uma palavra comprida;
P’ra, da coisa por comer,
Nós dizermos que é comida;
P’ra em Díli haver gente
Nem por isso diligente
Para haver quem se desunhe
Na viola, cheio de garra,
Embora, de facto, empunhe
Nas unhas uma guitarra;
Razão há sempre, o que é
Que não se sabe qual é


E voilá! Por esta semana ficamos neste pé.
Quanto ao prémio, vai ser assim...
Como debaixo de água não há bifes, o amigo Bifes não precisa dos óculos para nada. Do que precisa mesmo é de umas luvas de amianto, para virar frangos e assar entremeadas e isso, de momento, não temos.
As barbatanazinhas também já têm destino. Vão para o meu neto, que tem 6 anos e gosta muito de nadar, com a cabeça dentro de água. Estão-lhe folgadinhas, mas ele põe uma palmilhas e calça umas meias de enchimento. Já está tudo previsto.
Quanto ao mote para a semana que se apresenta...
Está na caixinha arriba.
Boa sorte, boa saúde, boa viagem, boa tarde.

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