Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
CUSCUVILHAI! CUSCUVILHAI!... QUE NESTE BLOG QUASE TUDO SE PASSA NOS COMENTÁRIOS!
Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece
Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.
Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...
Até lá, que deus vos cubra!
A lota continua!
"A trinta e cinco réis custa a pescada,
o triste bacalhau a quatro e meio"
O que para estas duas simpáticas holandesas é indiferente, já que elas preferem o arenque. Seja como for e porque peixe é peixe e não puxa carroças, deixai esta imagem inspirar-vos e impelir-vos para o grande Oceano da Poesia. Se não for pelos arenques, que seja pelos barretes das moças, que parecem as guelras de uma arraia...
Bom dia amigos e arre porra que até que enfim que poem aqui uma coisa onde a gente meter a poesia. achei graça ás gajas, mas, também digo, a comer arenque cru daquela maneira, ainda dão um jeito ao pescoço. Então agora a minha parte.
ResponderEliminar... ... ... ... ... ... ... ... ...
A trinta e cinco reis custa a pescada
O triste bacalhau a quatro e meio
Se não há p’ró café venha a cevada
Se não há pão de trigo há o de centeio
Se não há tamboril para a caldeirada
Junta-lhe uma sardinha e mais batata
Que no fim depois da coisa bem regada
Que se lixe vai tudo dormir p’rá mata
A vida só está má para aquela gente
A quem e por razões de cada qual
Ela corre digamos genericamente
Por sistema e francamente mesmo mal
Que de resto queixinhas temos nós todos
Quem não tem digam lá quem não as tem
São as espinhas e o safio tem-nas a rodos
A sardinha já não tanto mas também.
Américo Feijão, peixeiro, Costa da Caparica
Caríssimo professor Alcino Magalhães Saraiva,
ResponderEliminarEstá um lindo domingo de sol em Florença, e haveria, seguramente, maneiras mais saudáveis, se não mesmo mais agradáveis, de o passar do que escrever sonetos, mas enfim, são esses os sacrifícios que, ah!, a poesia nos exige e que merece de nós. Ah!...
Quero congratulá-lo, antes de mais, pela excelente iniciativa que tomou ao iniciar este Momento de poesia, e dar-lhe, ah!, também os parabéns pela escolha de um mote tão inspirador como este.
Tirando isso, gabo-lhe a paciência, mas enfim, cada qual faz, ah!, do tempo que tem o que lhe apetece, mesmo aos 89 anos, e é bem verdade que eu também devia ter ido dar uma volta em vez de me pôr aqui a escrever, ah!, sonetos, de maneira que o melhor é eu estar calado.
Ah!, os meus melhores cumprimentos e boa venda para o resto, para si e para todos os seus,
Francisco Ali Dantas, Florença, Itália
A trinta e cinco réis custa a pescada;
O triste bacalhau a quatro e meio;
Só a lábia, pelos vistos, é que é dada,
Sim, à borla, hoje em dia, só paleio.
Houve em tempos idos já falar barato,
Mas falar baixou de preço e é de graça
que se fazem louvores; e ao desbarato
se entrega a sanha, o repto e a ameaça.
Mas é melhor assim, que muita gente,
Tivesse o que se diz qualquer valia,
Passaria a vida toda só silente;
E bem mais do que o sofre sofreria…
Mais vale deitar fora o que se sente
Como se faz a toda porcaria!
Ah!
Camaradas, saudações revolucionárias. O meu nome é Arnaldo, mas, na clandestinidade, todos me tratam por Camarada Gualdino Paes.
ResponderEliminarO mote desta semana é muito sugestivo, mas, mesmo que não fosse, eu mandava na mesma, porque a luta continua e isto agora já só lá vai à porrada, como dizia o outro, o do acordeão. Adeuzinho aí...
... ... ... ... ...
Camaradas a lota continua
O polvo unido não fenece
Chaputa que pariu quem insinua
Que este sol que nos sardinha não aquece
Cerremos em cardume o punho erguido
As lulas mais pequenas vão à frente
Como têm muitas patas é curtido
Vê-las a agitar furiosamente
Façamos contra ventos e marés
A barreira de coral vitoriosa
Adonde mexilhões e burriés
Berbigarão a espuma gloriosa
Cosamos ao vapor da nossa fé
Aqueles que no mar andam perdidos
Os que por um limão e um capilé
Já os pais até tinham vendidos
Que ele há sempre ovelha tresmalhada
Em todo o cardume um patinho feio
A trinta e cinco reis custa a pescada
O triste bacalhau a quatro e meio
Bom dia, professor Saraiva,
ResponderEliminarVenho aqui depositar a minha modesta contribuição para o seu Momento de Poesia, e aproveito o ensejo para lhe pedir para dar aqui uma boa mangueirada nestes comentários, que isto é um cheiro a peixe que não se pode.
Muito obrigado,
Zé Manel Franzino
A trinta e cinco réis custa a pescada,
A tal que antes de ser o era já;
Só que antes de o ser não era nada
E agora é trinta e cinco e é quando há…
O triste bacalhau a quatro e meio
E é quase espinhas só, do mais miúdo;
Dez paga quem quiser algum mais cheio
E pode ir ao vintém, se for graúdo.
A dois vinténs a dúzia da sardinha,
É gozar co’a a miséria, ó companheiro!
Se as assam, eu abro uma carcacinha
E como o papo-seco só c’o cheiro.
Nem falo da corvina, nem do pargo,
A que ninguém já chega, nem mulato,
Nem à faneca já e nem ao sargo,
E nem ao carapau, mesmo de gato.
Que é feito do pe’xinho que houve outrora,
Ó fiel amigo, diz lá, onde andas tu?
Que pecados cometi que pago agora
Com bifinhos enxabidos de peru?
Que pecados cometi, p’ra merecer
A tortura cruel de Satanás
De já não voltar mais, em meu viver,
A chupar uma cabeça de goraz?
Mas ao preço que ele está, pobre de mim,
Só me resta resignar-me e aceitar
Que a vida doravante é mesmo assim:
Só bifes ao almoço e ao jantar…
a trinta e cinco reis custa a pescada
ResponderEliminaro triste bacalhau a quatro e meio
p'ra começar a tabela está desactualizada
que agora com a pescada congelada
sempre sai mais barato para um remedeio
já o bacalhau como é salgado
e vem de longe que é tudo peixe importado
fiel amigo só se for do alheio
mas agora a sério ainda bem
que se lembram desta nobre profissão
de ir ao mar na incerteza porém
de resgatar ao mar o doirado pão
peixeiras e pescadores a luta é dura
espinhosa digo mesmo só por graça
que de resto só uma cavalgadura
se pode queixar do preço do peixe na praça
E pronto, chamo-me Adelaide, sou peixeira em Tavira e tenho dois filhos, um é coxo.