Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
CUSCUVILHAI! CUSCUVILHAI!... QUE NESTE BLOG QUASE TUDO SE PASSA NOS COMENTÁRIOS!
Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

A lota continua!


"A trinta e cinco réis custa a pescada,
o triste bacalhau a quatro e meio"

O que para estas duas simpáticas holandesas é indiferente, já que elas preferem o arenque. Seja como for e porque peixe é peixe e não puxa carroças, deixai esta imagem inspirar-vos e impelir-vos para o grande Oceano da Poesia. Se não for pelos arenques, que seja pelos barretes das moças, que parecem as guelras de uma arraia...

5 comentários:

  1. Américo Feijão, de Costa de Caparicadomingo, 17 maio, 2009

    Bom dia amigos e arre porra que até que enfim que poem aqui uma coisa onde a gente meter a poesia. achei graça ás gajas, mas, também digo, a comer arenque cru daquela maneira, ainda dão um jeito ao pescoço. Então agora a minha parte.

    ... ... ... ... ... ... ... ... ...
    A trinta e cinco reis custa a pescada
    O triste bacalhau a quatro e meio
    Se não há p’ró café venha a cevada
    Se não há pão de trigo há o de centeio

    Se não há tamboril para a caldeirada
    Junta-lhe uma sardinha e mais batata
    Que no fim depois da coisa bem regada
    Que se lixe vai tudo dormir p’rá mata

    A vida só está má para aquela gente
    A quem e por razões de cada qual
    Ela corre digamos genericamente
    Por sistema e francamente mesmo mal

    Que de resto queixinhas temos nós todos
    Quem não tem digam lá quem não as tem
    São as espinhas e o safio tem-nas a rodos
    A sardinha já não tanto mas também.


    Américo Feijão, peixeiro, Costa da Caparica

    ResponderEliminar
  2. Francisco Ali Dantas, Florença, Itáliadomingo, 17 maio, 2009

    Caríssimo professor Alcino Magalhães Saraiva,

    Está um lindo domingo de sol em Florença, e haveria, seguramente, maneiras mais saudáveis, se não mesmo mais agradáveis, de o passar do que escrever sonetos, mas enfim, são esses os sacrifícios que, ah!, a poesia nos exige e que merece de nós. Ah!...

    Quero congratulá-lo, antes de mais, pela excelente iniciativa que tomou ao iniciar este Momento de poesia, e dar-lhe, ah!, também os parabéns pela escolha de um mote tão inspirador como este.

    Tirando isso, gabo-lhe a paciência, mas enfim, cada qual faz, ah!, do tempo que tem o que lhe apetece, mesmo aos 89 anos, e é bem verdade que eu também devia ter ido dar uma volta em vez de me pôr aqui a escrever, ah!, sonetos, de maneira que o melhor é eu estar calado.

    Ah!, os meus melhores cumprimentos e boa venda para o resto, para si e para todos os seus,

    Francisco Ali Dantas, Florença, Itália

    A trinta e cinco réis custa a pescada;
    O triste bacalhau a quatro e meio;
    Só a lábia, pelos vistos, é que é dada,
    Sim, à borla, hoje em dia, só paleio.

    Houve em tempos idos já falar barato,
    Mas falar baixou de preço e é de graça
    que se fazem louvores; e ao desbarato
    se entrega a sanha, o repto e a ameaça.

    Mas é melhor assim, que muita gente,
    Tivesse o que se diz qualquer valia,
    Passaria a vida toda só silente;

    E bem mais do que o sofre sofreria…
    Mais vale deitar fora o que se sente
    Como se faz a toda porcaria!

    Ah!

    ResponderEliminar
  3. Gualdino Paes, Arnaldo, na clandestinidade (ou vice-versa)domingo, 17 maio, 2009

    Camaradas, saudações revolucionárias. O meu nome é Arnaldo, mas, na clandestinidade, todos me tratam por Camarada Gualdino Paes.
    O mote desta semana é muito sugestivo, mas, mesmo que não fosse, eu mandava na mesma, porque a luta continua e isto agora já só lá vai à porrada, como dizia o outro, o do acordeão. Adeuzinho aí...


    ... ... ... ... ...

    Camaradas a lota continua
    O polvo unido não fenece
    Chaputa que pariu quem insinua
    Que este sol que nos sardinha não aquece

    Cerremos em cardume o punho erguido
    As lulas mais pequenas vão à frente
    Como têm muitas patas é curtido
    Vê-las a agitar furiosamente

    Façamos contra ventos e marés
    A barreira de coral vitoriosa
    Adonde mexilhões e burriés
    Berbigarão a espuma gloriosa

    Cosamos ao vapor da nossa fé
    Aqueles que no mar andam perdidos
    Os que por um limão e um capilé
    Já os pais até tinham vendidos

    Que ele há sempre ovelha tresmalhada
    Em todo o cardume um patinho feio
    A trinta e cinco reis custa a pescada
    O triste bacalhau a quatro e meio

    ResponderEliminar
  4. José Manuel Franzino, Vila Nova da Sardinha, S. Goraz de Alcantarilhaquarta-feira, 20 maio, 2009

    Bom dia, professor Saraiva,

    Venho aqui depositar a minha modesta contribuição para o seu Momento de Poesia, e aproveito o ensejo para lhe pedir para dar aqui uma boa mangueirada nestes comentários, que isto é um cheiro a peixe que não se pode.

    Muito obrigado,

    Zé Manel Franzino

    A trinta e cinco réis custa a pescada,
    A tal que antes de ser o era já;
    Só que antes de o ser não era nada
    E agora é trinta e cinco e é quando há…

    O triste bacalhau a quatro e meio
    E é quase espinhas só, do mais miúdo;
    Dez paga quem quiser algum mais cheio
    E pode ir ao vintém, se for graúdo.

    A dois vinténs a dúzia da sardinha,
    É gozar co’a a miséria, ó companheiro!
    Se as assam, eu abro uma carcacinha
    E como o papo-seco só c’o cheiro.

    Nem falo da corvina, nem do pargo,
    A que ninguém já chega, nem mulato,
    Nem à faneca já e nem ao sargo,
    E nem ao carapau, mesmo de gato.

    Que é feito do pe’xinho que houve outrora,
    Ó fiel amigo, diz lá, onde andas tu?
    Que pecados cometi que pago agora
    Com bifinhos enxabidos de peru?

    Que pecados cometi, p’ra merecer
    A tortura cruel de Satanás
    De já não voltar mais, em meu viver,
    A chupar uma cabeça de goraz?

    Mas ao preço que ele está, pobre de mim,
    Só me resta resignar-me e aceitar
    Que a vida doravante é mesmo assim:
    Só bifes ao almoço e ao jantar…

    ResponderEliminar
  5. Adelaide, de Taviraquarta-feira, 20 maio, 2009

    a trinta e cinco reis custa a pescada
    o triste bacalhau a quatro e meio

    p'ra começar a tabela está desactualizada
    que agora com a pescada congelada
    sempre sai mais barato para um remedeio

    já o bacalhau como é salgado
    e vem de longe que é tudo peixe importado
    fiel amigo só se for do alheio

    mas agora a sério ainda bem
    que se lembram desta nobre profissão
    de ir ao mar na incerteza porém
    de resgatar ao mar o doirado pão

    peixeiras e pescadores a luta é dura
    espinhosa digo mesmo só por graça
    que de resto só uma cavalgadura
    se pode queixar do preço do peixe na praça

    E pronto, chamo-me Adelaide, sou peixeira em Tavira e tenho dois filhos, um é coxo.

    ResponderEliminar