Após o falecimento de Scheinswitzer em meados de Maio, e após um comentário tão lacónico como apatetado ao elogio fúnebre que eu lhe escrevi a 16 desse mês, o espectro de Scheinswitzer deixou-me, a 18 de Maio, a sua primeira missiva do Além, que passo a transcrever na íntegra:
Nem você suspeita, Saraiva, que alminhas a gente encontra nos corredores do Além. Há bocadinho, encontrei um famoso poeta setubalense, e disse-me assim o coitado:
Repentistas como eu já os não há,
Quer dizer, nem os não houve nunca mais,
Pelo menos, desde que, há uns anos já,
Se juntou a nós o Carlos dos Jornais,
E eu Bocage já não sou, nem ele é
Carlos que um dia foi – mas é assim,
Nada dura p’ra sempre e há-de até
Um dia a eternidade ter um fim.
E começou, num tom monótono e cavernoso, uma lengalenga em que repetia “A garrafa vazia de Manuel Maria” apontando para a garrafa vazia que trazia na mão. E eu vou eu assim para ele: “Já te vi mais são…” E vai ele assim p’ra mim: “’Tá bem, corrige lá:
E eu Bocage já não sou, nem ele é
Carlos que um dia foi – mas é assim:
Não fora a jeropiga e a água-pé,
E seria tudo o que há apenas ruim…
Acabou de dizer a quadra, pôs-se a gritar que nem um maluco “Atchum, atchum! Meti um i no rum, meti um i no rum!”, e foi-se embora aos pulos. Isto o Além está cheio deles assim, o que é que você pensa?
Respondi da seguinte forma a esta primeira missiva do Além:
Com que então o próprio Elmano, o Sadino Bocage?!... Olhe, amigo Alberto, posso dar-lhe um conselho? Se voltar a ver o Bocage e ele estiver agarrado a um poste, ou a um candeeiro com um ar afogueado… você passe de largo. Faça como lhe digo, passe de largo.
Só mais uma coisa. Satisfaça-me esta curiosidade. O Além é mesmo como se diz, ou é mais largo?
E, nesse dia, assim ficámos. Mas continua…
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