Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
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Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

2ª missiva do além – quem num pano encharcado agarrasse

No dia 20 de Maio, recebi do espectro de Alberto Scheinswitzer a segunda missiva, que dizia assim:

Quem hoje encontrei, Saraiva, nos corredores do Além, foi um tal Paulino António Cabral, que eu não conhecia de lado nenhum e que, por isso, fiquei muito surpreendido de ver furioso comigo, como eu se lhe tivesse feito algum mal.
“E que fazia em vida, Sr. Cabral?”, perguntei-lhe eu, quando ele se me apresentou com maus modos (ele é que se apresentou com maus modos, não fui eu que lhe perguntei com maus modos).
“Era poeta”, disse ele.
“Era mais alto, então?”
“Do que agora sou?”
“Por exemplo…”
“É bem verdade… Comecei a minguar há muito tempo e, ao contrário do que eu previa, não veio a morte parar o processo – continuei a minguar depois de morto…”
“Mas poucochinho”, disse-lhe eu, “que ainda é quase da minha altura…”
“Fisicamente falando…”
“Como fisicamente falando, se somos espectros imateriais?”
“Espectralmente falando, então. Espiritualmente, sou mais alto…”
“Não me diga! E porquê?”
“Porque sou poeta…”
“Ainda, então? Mesmo depois de morto?”
“Sim, e furioso!”
“Isso já vi, mas porquê não sei. Comigo não tem, com certeza, razão para estar furioso, porque eu não lhe fiz mal nenhum…”
“É o seu amigo Saraiva, esse tratante, que anda agora a usar versos meus de mote para a bandalheira do concurso dele! Com que direito se julga ele, hem? Queria pedir-lhe que fizesse chegar um soneto inglês a esse desgraçado. Pode ser?”
“Chute lá então.”
E vai ele assim:

“Saraiva, seu faceto, seu patife,
Pudesse eu e garanto que agarrava
Num bóxer, num buldogue ou num mastife
E lho largava em cima e atiçava

E ficava-me a rir, a ver a besta
Desfazer-lhe os fundilhos do calção
Barata e folgazona que era a festa
E talvez aprendesse uma lição:

Que não se vai aos versos de um poeta,
P’ra deles fazer mote por graçola.
É uma falta de respeito, ó seu pateta,
É do pior que há, do mais farsola.

Quem num pano encharcado agarrasse
E com ele nas ventas lhe espetasse!”


E pronto, Saraiva, eis a mensagem rimada desta irada alma penada. O que lhe diz você, hem?

Quanto à sua pergunta, Saraiva, o Além é bem mais largo do que se diz. Penso que se diz que tem 1,73 m de largura, não é verdade? Pois, na realidade, tem 2,14 m. Tudo corredores.

No mesmo dia, respondi-lhe de um posto de gasolina em Alverca, porque me tinha esquecido do computador em casa. Disse-lhe assim:

Folgo muito, amigo Alberto, que se encontre bem e com trapio, nesse assento etéreo onde subiu, nessa triste e fria madrugada, em que acendi no seu, o meu cigarro.
Fico contente por o Além ser mais largo do que se diz, não porque tencione lá entrar com um piano às costas, nos tempos mais próximos, mas,de qualquer forma, é sempre bom e fico contente.
Quanto a si, aconselho-o a não perder tempo com esses chico-espectros que lhe vão aparecendo por aí. Isso deve estar carregadinho deles e tempo é coisa que você aí tem muito para perder. Por isso, já vê, se vai por aí, não faz mais nada o resto da morte. Não, não vá por aí, ou é preciso que eu lhe estenda os braços, seguro de que seria bom que você ouvisse, quando lhe digo, não vá por aí?... que é para depois você seguir os seus próprios passos e dar de trombas com o Zé Régio...
O Esticadinho dos sonetos, a esse nem vale a pena responder. Se o voltar a ver, cite-lhe o grande Quim Barreiros, " o bacalhau quer aaaalho!"
salvações e coisas fúteis
até sempre
(no seu caso, então... é mesmo!)


E, nesse dia, assim ficámos. Mas continua

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