Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
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Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

4ª missiva do além – que não creia em fantasmas, acho bem…

No dia 27 de Maio, recebi do saudoso Alberto Scheinswitzer (ou antes, da sua alma…) a quarta missiva do Além, que rezava assim:

Quem eu hoje encontrei, Saraiva, foi o poeta Tolentino, esse velho Nicolau, ou, se preferir, a alma do dito, mas a gente aqui nem dá por isso, se é alma ou não, porque almas somos nós todos e só isso… E vai ele assim p’ra mim:
“Não é voss’mercê que é amigo de um tal Saraiva, professor e poeta?”
“Sou sim, porque pergunta?”
“E não é verdade que esse homem é um incrédulo e, muito provavelmente, um ateu?”
“Assim o creio”, respondi eu, “se bem que o não tenha dele de forma clara”. Espero que não leve a mal, Saraiva, eu ter falado assim ao Tolentino. Não é, pois, verdade conhecida que você é um descrente, por muito que, para disfarçar o seu abusado materialismo, se ponha a dar lições de abertura de espírito a esse pobre de espírito desse Manel José? Ora… Mas toujours est-il que o poeta Nicolau vai então assim p’ra mim:
“Peço-lhe pois que lhe faça chegar este soneto que escrevi à sua, dele, intenção.”

Sei que se diz, Saraiva, terra-a-terra
E sei que não se afasta do que diz,
Que co’a crendice há muito está em guerra,
Que lhe chega a mostarda ao nariz

Se alguém lhe vem falar dum outro mundo
Além do que conhece. Oh pequenez!
No fundo, acho eu, bem lá fundo,
Você, Saraiva é, tão… português!...

Que não creia em fantasmas, acho bem.
Eu cá também só creio porque os vi…
Mas no seu mundo nunca os viu ninguém…

Mas deve-se esperar, sempre o ouvi,
Haver o que se dá a outro alguém:
Crê que os fantasmas, pois… crêem em si?

E aí tem, Saraiva, e que me diz? Quanto a tanto (quanto a tanto?) o Aquém como o Além valerem mais do que o Cacém, engana-se, Saraiva. O Cacém, fique pois a saber, também faz parte da Cintura Espectral da Grande Lisboa e está a abarrotar de almas penadas. Por outras palavras, o Cacém, ou uma parte dele, é Além e Aquém ao mesmo tempo, conforme o ponto de vista. O Cacém que você conhece, Saraiva, é só uma miragem destinada a confundir os tristes seres de carne e osso como você. Agora, por falar em carne e osso, o que você pode dizer que vale mais do que o Aquém, o Além e o Cacém é o Acém, isso sim. O Acém e a Alcatra, e até mesmo a Rabadilha, mas isso é outra conversa…

Respondi-lhe no dia seguinte, desta feita num computador azul emprestado. E disse:

Amigo Alberto, já reparou que conversamos mais agora do que enquanto você era vivo e de saúde e nos premiava com a sua ausência e o seu silêncio, homem, pá?... Há coisas fantásticas, não há?
Pois quanto ao Nicolau, esse tolo sem tino, pensava ele que eu era o quê? Espanhol, como o pimpampum do Dantas? É tonto. O soneto ainda escapa, agora ele é tonto.
Quanto ao Cacém... é bem capaz de ter você razão, oh amigo Alberto. Almas penadas e autocarros da Eduardo Jorge... Já do acém só se pode dizer bem. Do acém e da bela alcatra, não desfazendo da garbosa costeleta e do epifânico cachaço de porco com feijocas. Ah, amigo Alberto, diga-me você que, aí onde está, se podem ainda desfrutar destas suculentas iguarias! É que, senão, não sei se valerá a pena ir desta p’ra melhor... Francamente, não sei se não será melhor ficar por aqui, como alma penada à porta das tascas, de bucha de pão na mão, aspirando o aroma das iscas a fritar na sertã.
Ser ou não ser ateu, como dizia o Amadeu, ai de mim se não for eu! E ao mais e ao resto, que deus tenha misericórdia de nós, que os tempos não vão fáceis. Aí, não sei, mas aqui não vão. Já agora, vocês aí têm acesso à chave do totobola? Antes do sorteio, quero eu dizer. Se não puder ser, tudo bem.
E por ora, deverão... (por hora de Verão?!) enfim, adiante - por ora, deverão os seus amigos fantasmas e o palerma do Nicolau ficar descansados, que, mesmo que não existissem, eu acreditava neles, na mesma.
Até sempre, ou, no seu caso, até breve
deste seu amigo de sempre
que brevemente se assina Saraiva

E, nesse dia, assim ficámos. Mas continua

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