Foi no dia 1 do corrente mês de Junho que recebi da sombra espectral de Alberto Scheinswitzer a sua 5ª missiva do Além, que dizia o seguinte:
É verdade, Saraiva, que acabamos por conversar mais agora do que em vida minha. Mas tem de compreender que isto aqui nos corredores do aquém é tudo muito morto, de maneira que não tenho muito com quem falar...
Agora, veja lá esta: há bocado, encontrei ali um tipo numa leitaria que ali há, uma personagem curiosa.... A leitaria estava cheia, porque, como isto aqui é tudo corredores, as leitarias só têm uma mesa cada uma, e então perguntei-lhe se me podia sentar ao pé dele para beber um chazinho de tília e, enfim, assim para o pôr mais à vontade, apresentei-me, Alberto Scheinswitzer, catedrático de línguas védicas, pois, sim, era, já fui, e vosselência, a quem tenho a honra?, e quando ele vem assim p’ra mim: “Ninguém…”, «pronto», pensei eu, «já vi o filme todo, é mesmo aquele que o Saraiva há-de pensar que é quando eu lhe disser...» E não é que, passado um bocado, o tipo me pede para eu lhe fazer chegar às mãos, a si, ó Saraiva, um poema dele, diz que “de profunda arrelia pelo modo como se trata hoje a poesia”? Ele há coisas do outro mundo, digo-lhe eu! Mas como é que aquela alminha sabia (ah ah ah ah, ó Saraiva, esta agora foi boa, não foi?) que eu me correspondo consigo? Bom, mas aqui vai:
Não te gramo: pela minh’alminha.
E vá lá que eu tenho calma – tenho calma,
A calma – do jazigo.
Mas, que não te gramo, isso não.
Não te gramo, podes mesmo crer:
Tu faz-te mas é a vida – que eu, paciência,
Já não tenho... Mas, prontos…
Ai! não te gramo, não!
Ai! não te gramo, não; e só me apetece,
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Dar-te murros na cabeça.
Não te gramo. És fatela; e eu não te gramo, ó fatela.
Tu és dali da Estrela
E eu sou da Boa Hora
‘Tá tudo dito!
E não te gramo, prontos, também não sou obrigado,
Tenho mau feitio, é azar teu
Este indigno furor.
Agora que não te gramo, não.
E infame sou, talvez; mas ouve lá
Não me venhas com coisas do esbiritúris do cabaçara do sira do sarita dos campos pequeninos lá de baixo dos porque são, porque eu,
De ti não tenho medo nenhum...
Por isso… Pá, não te gramo, pronto.
Agora, depois de ler o poema, fiquei desconfiado que, se calhar, não era bem quem eu pensava, porque há ali um verso que tem a métrica toda estragada... Mas, enfim, fica entregue o recado.
Quanto a iguarias, são melhores as daí que as daqui. O melhor que isto aqui tem ainda são as sobremesas, sobretudo os papos de anjo e o toucinho-do-céu. No que respeita à chave do totobola antes do sorteio, não sei, mas vou-me informar. Quem é capaz de saber disso é o S. Pedro, que ele é quem tem uma loja de chaves, ali para o lados do Areeiro Celeste, que é um corredor que aqui há. Eu depois digo-lhe qualquer coisa, sim?
Saudações espectrais
Scheinswitzer
E logo no mesmo dia, respondi eu o seguinte a essa missiva do outro mundo:
Despachamos já o Garrett. Oh Almeida, p’ra ti... naquela base! Só mesmo uma cavalgadura do gabarito dessa besta é que se lembrava de fazer um teatro no lugar onde se deveria perpetuar a memória das vítimas da Inquisição! Só um cavalo é que escrevia livros a incentivar guerras e quezílias entre pescadores e camponeses, a fomentar a divisão do povo. Só mesmo um animal inventava uma história, onde um gajo, por razões políticas, pega fogo à casa e deixa a mulher e a filha tuberculosa nas mãos do destino, enquanto foge a esconder-se num convento, de sandálias e corda à cintura... Por isso, esse irlandês de segunda... que se fique a baptizar leitarias, que para isso é que ele tem jeito.
E você, meu amigo?!... Como vai essa etérea bizarria?... Olhe, queria pedir-lhe um outro favor. Quando for falar com S. Pedro das chaves, veja se apanha o outro, o S. Pedro de Alcântara e pergunte-lhe a que horas é o comboio para a Cruz Quebrada. Faz-me isso?
Do resto, só lhe digo, se abusar dos doces, dê-lhe com um quarto de água de chuva ácida, para cortar os açúcares.
Outra coisa, vocês aí andam como? Têm farda? Andam todos nus? Vestidos com um lençol? Ou é tudo à balda?...
Salgadinhos e queijo fresco
até sempre
E, nesse dia, ficámos assim. Mas continua…
Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
CUSCUVILHAI! CUSCUVILHAI!... QUE NESTE BLOG QUASE TUDO SE PASSA NOS COMENTÁRIOS!
Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece
Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.
Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...
Até lá, que deus vos cubra!
Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.
Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...
Até lá, que deus vos cubra!
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