Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
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Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

7ª missiva do além – mas ninguém quer ser zarolho

Acabo de receber, às 20 horas de 7 de Junho, a 7ª missiva de Scheinswitzer, que diz assim:

Caro Saraiva,

Perguntava você, e perguntava bem, do olho do Camões e do ouvido do Beethoven. Pois saiba que fui investigar. E sabe que mais? É mesmo zarolho, o primeiro, e o segundo surdo que nem uma porta. Quando vi o Beethoven, ia ele lá ao fundo de um corredor com um funil de corno de vaca no ouvido. Era um dos bons, ouviu, da So No Tone, que, traduzido de inglês para português significa Então Não Há Tom. Coitado do homem, fez-me pena.«Senhor Ludovico!», gritei-lhe eu, e ele nada. Aproximei-lhe e disparei à boca do corno: «Senhor Ludovico, bom dia!» e ele aí alguma coisa deve ter ouvido, porque respondeu: «Agora não preciso, ainda lá tenho no congelador para duas ou três refeições…» Quer melhor prova de que ele não ouve bem?
O grande poeta Luís de Camões, encontrei-o nem passada meia hora. Estava a escrever um poema. Quando o saudei e me apresentei, foi logo ele assim para mim:
“Não é vossa mercê amiga de um tal Magalhães Saraiva, diz que Professor?”
Respondi-lhe que sim e que me espantava que se referisse a mim no feminino.
“Não é feminina a palavra mercê?”
“Sim, é claro, mas todos os manuais que conheço de estilo e boas maneiras mandam que, dirigindo-se a um homem, por muito que se o trate por excelência, eminência ou etc….”
“Por etc. também? Ora, deixe-se lá de manuais de estilo… Eu sou Camões, não vê? O estilo, sou eu que o imponho aos manuais…”
“Se assim o deseja…”, curvei-me eu perante tamanha autoridade.
“Assim o desejo, de facto, e mais desejo: desejo que me certifique zarolho e que entregue ao seu amigo um recado”, disse ele. Primeiro, afastou a venda e, ó Saraiva, nem quero agora falar disso, nem queira saber a impressão aquilo me fez… E depois estendeu-me um papel onde estava escrito o seguinte:

Veja lá por trás da venda
O que há, mas não se assuste,
Nem grite nem barafuste,
Se aquilo que a venda venda

For só a visão horrenda,
De uma órbita vazia.
E oiça bem, senhoria,
O que a minh’alma desvenda:

Se eu soubesse que p’ra ser
Camões havia que ter
Um só olho, queria antes

Não ser Camões nem zarolho
E em troca de mais um olho,
Eu seria até... Cervantes…

Quanto a fumar, aqui é à brava. Não se esqueça, amigo Saraiva, que fumar não faz mal a alma nenhuma. O que é que quer que nos aconteça? Que morramos com um cancro nos pulmões?
Um grande e etéreo abraço, se se pode dizer assim,

Scheinswitzer

Ora bem, caro amigo Alberto, lá onde você está, que eu já desisti de me estar a ralar com isso, se é Lá, ou Cá, ou a Meiodeporranenhuma, folgo muito que se encontre. Isso faz-me lembrar outra coisa. Se isso aí é tudo espíritos e coisas vagas, vocês para se encontrarem uns aos outros deve ser complicado, não? Nunca confundiu, sei lá, o Gago Coutinho com uma corrente de ar?... Ou a Rainha Santa com uma fuga de gás?... E não têm medo de ser chupados pelo tubo do ar condicionado? Ou aí não há disso?
Outra coisa. O soneto do Camões é nojento. A órbita vazia por trás da venda... simplesmente nojento. Só lhe falta agora escrever uma ode aos eczemas, ou uma elegia ao hemorroidal, o porco. Você, amigo Alberto deixe-se, mas é, disso. Deixe de dar conversa a essa gente. A maior parte deles, já enquanto andavam vivos, não se pecebia metade do que diziam, depois de mortos é o descalabro. E depois, as rimas, pai do céu! Rimar olho com zarolho, antes com Cervantes... E esse Camões, já vimos que continua o mesmo arrogante que já era em vida. "O estilo sou eu"! Ora francamente, com aquele calçãozinho e meia de seda, pézinho a três quartos e sapatinho à Carmen Miranda... estamos a ver o estilo!...
Bom e para saber que está bom e com trapio, já vai a missiva bem aviada. Não se disperse, que depois, só com um aspirador.
Até sempre

3 comentários:

  1. ErnestoE., Parededomingo, 07 junho, 2009

    olá amigo professor Saraiva, acho uma excelente ideia, publicar aqui a sua correspondência com o saudoso académico Alberto Scheinswitzer, que deus tenha... sabe, eu nunca fui muito destas coisas de fantasmagorias e almas do outro mundo. eu sempre fui muito terra a terra, mesmo na praia. para mim, uma sandes de presunto é uma sandes de presunto e não voa. mas acho interessante ficar a par do que se passa lá do outro lado do Aquém. mesmo que seja tudo treta, acho graça, na mesma. e depois aquelas baboseiras dos poetas que ele diz que encontra lá nas passeatas dele. às vezes até estou aqui com a minha Ermelinda e começamos a rir os dois, quando lhe leio as vossas cartas, em voz alta. a minha Ermelinda às vezes até me atira com o chanato para eu me calar, antes que lhe caia a prótese, com a risota.
    olhe, boa continuação e as melhoras , suas e da menina Alice, que nunca mais a vi.

    Ernesto Embutido, da Parede

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  2. Desculpe lá, caro professor, mas até parece que lá no Além para onde foi esse defunto se vive na Luso-Brasileira. Melhor fora que se convertesse em assombração e inspirasse a deplorável criatividade dos ridiculos poetinhas que proliferam nas tão dignas páginas deste seu Momentinho. Apre! Que limbo!

    Elvira Latas, La Valeta

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  3. Respondo primeiro ao amigo Ernesto. Oh amigo Ernesto, você já se deu conta que o seu nome em espanhol quer dizer chouriço?... Ernesto Embutido podia ser Ernesto Chouriço... Eh eh é engraçado não acha?. Bom, adiante e já agora respondo também à amiga Elvira... essa história dos poetas que o nosso saudoso amigo Alberto diz que encontra lá por onde anda... metade é coisas que ele acha que vê e o resto é gases. Vapores, espíritos, poesia em gasoso. Que, os estudos esotéricos que fiz quando estive no Japão e uma velha que conheci, quando já vinha no comboio para Amsterdão, que já tinha sido bruxa, noutra encarnação provam que "do outro lado" é tudo uma enorme gasosa espiritual, onde não se sabe onde começa o manel e acaba o jaquim. Estão a ver o puré de batata? É parecido.
    Já agora, amiga Elvira, reparo que a vida lhe deve correr bem, para já ter moço de recados e tudo. Você escreve a carta e manda o Anónimo vir entregá-la. Muito chique, sim senhora. Ao resto nem me vou dar ao trabalho de responder, ou comentar. Se não gosta da poesia, coma só as reticências. Passar bem e boa praia

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