Vem, a Poesia, eu vos conto, rastejando por entre o lixo, como um gato à procura de qualquer coisa...
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Isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece

Olá amigos, é o professor Saraiva quem vos fala! E, à primeira vista, isto pode parecer um concurso e é, de facto, com o que mais se parece, pelo menos, à primeira vista, no entanto, seria mais correcto compará-lo com outra coisa qualquer. Como de momento não me lembro o quê, chamemos-lhe um ponto de encontro de almas sensíveis e mentes abertas ao apelo da grande Arte Poética.

Ora, num contexto destes, pensar-se em prémios e gratificações é de uma mesquinhez inqualificável, de merdosa. Haveria de servir-vos de consolação e júbilo o serdes publicados neste espaço de tão requintado gosto e exigente gabarito, mas, já andamos nisto há muito tempo e sabemos do que a casa gasta, por isso é bem provável que vos ofereçamos uma qualquer lembrança, ou singelo regalo, como prémio e distinção...

Até lá, que deus vos cubra!

8ª missiva do além - tulipas de Amsterdão

Meia dúzia de horas, se tanto, depois de eu lhe ter finalmente respondido à missiva anterior, já o Scheinswitzer, essa endiabrada assombração deste blog, me escrevia nova missiva, que publico a seguir. Bem se vê que nos corredores do Além não há muito que fazer....

Corredores do Além, 10 de Junho de 2009

Espero, caro Saraiva, que esta o vá encontrar, a si e aos seus, de boa saúde e melhor disposição; ou não sendo isso possível, por qualquer malévola ordenação de quem no Mal manda, o Guilherme Velho, pelo menos que se encontre você de boa saúde e disposição, esteja lá como estiver o resto da família; e se nem isso for possível, que goze você de saúde mesmo sem boa disposição (aliás, sendo você o mal disposto que por natureza é , quase a si próprio se desconhece quando está bem disposto, ou não?); e se nem isso for possível, porra, espero, pelo menos, que esta o vá encontrar.

E por falar em encontrar, respondo já à pergunta que me faz: se é complicado para nós encontrarmo-nos uns aos outros. Mas claro que não, se isto é só corredores, a gente está sempre a cruzar-se, sempre a cruzar-se, sempre a cruzar-se. A única coisa é que, como nos corredores passam muitos corredores, e alguns a correr muito, alguns deles passam-nos ao lado sem darem por nós. Tanta gente que aqui me passa ao lado, você nem imagina…

Mas acho graça você perguntar-me se já alguma vez confundi o Gago Coutinho com uma corrente de ar. O Gago Coutinho, de quem, aliás, me tornei muito amigo quando aqui cheguei, é inconfundível, fique você a saber. Ou então é o Sacadura Cabral que é inconfundível, já não sei. Sei que há um deles que é inconfundível e, o outro, estou sempre a confundi-lo com esse que é inconfundível.

Quanto à Rainha Santa, esse Elisabet que nós importámos de Aragão, é uma coincidência enorme você referi-la, porque acabo de a encontrar mais o marido dela, acompanhados por uma comitiva de coristas do Teatro Nacional de Amesterdão. Vinham a dançar e a cantar uma velha valsa holandesa. Apressei-me a tomar nota da letra, que me pareceu interessante, e era assim:

D. Dinis:
Isabel, por Deus, senhora, estais
em grande turbação!
D. Isabel:
Que turbada, eu? Dinis, brincais!
Qual seria a razão?
D. Dinis:
Tenho cá p’ra mim que me preparais
vil e reles traição!
Já me foste ao mealheiro
e sacaste-me o dinheiro
p’ra bolinhos e café
par’ oferecer à ralé!
D. Isabel:
Sois cruel e tendes, ademais
fértil imaginação!
D. Dinis:
Pois se não são bolos que levais
por certo deve ser pão.
D. Isabel:
Mas qual pão, qual quê, senhor, delirais,
são tulipas de Amsterdão!
Coro:
Duizend gele, duizend rooie,
wensen jou het allermooiste.
D. Dinis:
Wat mijn mond niet zeggen kan...
D. Isabel:
... zeggen tulpen uit Amsterdam!
D. Dinis:
Eu pensava que era pão, mas são...
Coro:
...tulipas de Amsterdão!
D. Isabel:
Não sei se será milagre ou não...
Coro:
...tulipas de Amsterdão!
D. Dinis:
Não são rosas nem são cravos, são...
Coro:
...tulipas de Amsterdão!
D. Isabel:
Duizend gele, duizend rooie...
D. Dinis:
...wensen jou het allermooiste.
Todos:
Wat mijn mond niet zeggen kan
zeggen tulpen uit Amsterdam!
D. Dinis:
E é assim que é o refrão da canção:
Coro:
Tulipas de Amsterdão!
D. Dinis:
É um caso de falta de inspiração...
Coro:
Tulipas de Amsterdão!
D. Dinis:
O melhor é parar com esta aberração...
Coro:
Tulipas de Amsterdão!


E depois desapareceram lá ao fundo do corredor, num lindo efeito de fade out. Uma coisa espectracular!!! ESPECTRACULAR! Que me diz a isto, meu amigo?

Quanto às almas deste mundo outro terem medo de serem chupadas pelo tubo do ar condicionado, é verdade que sim, que têm disso um medo terrível! Sabe o medo que os gauleses têm de que lhes caia o céu em cima da cabeça? Pois bem, o mesmo medo temos nós, espectros, de que nos chupe o tubo de ar condicionado. É um pavor que nos condiciona muitíssimo.

Em relação ao Camões, peço licença para discordar completamente da sua opinião: esse homem é um cavalheiro; e escreve como ninguém... Quer dizer, como ninguém, não, como o grande Alguém que ele é! Nojenta, meu caro Saraiva, era a sua prima. E veja lá, se mesmo assim, não se casou?

Receba muitas saudações destes infindáveis corredores

Scheinswitzer


E que respondo eu a uma alminha destas, não me dirão?

1 comentário:

  1. Mande-o ir falar com o Camões, que também deve andar para lá a abrir e fechar portas, que cá pra mim aquilo do Além deve ser uma corrente de ar permanente.
    Não se aguenta tanta língua morta! Chiça!

    Elvira Latas, La Valeta

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